UFMG adota seleção seriada para ingresso em cursos de graduação

Universidade inicia novo processo seletivo em 2025, com impacto direto na concorrência e na inclusão de estudantes

Por Plox

05/02/2025 07h17 - Atualizado há cerca de 1 mês

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) anunciou a adoção do Processo Seletivo de Avaliação Seriada (PSAS) como uma nova forma de ingresso nos cursos de graduação. A modalidade será aplicada a partir de 2025 e coexistirá com as formas já utilizadas, destinando 30% das vagas para os candidatos que optarem por esse sistema. Assim como nos demais processos seletivos da instituição, as normas da lei de cotas serão seguidas, garantindo a reserva de vagas para estudantes de escolas públicas e grupos socialmente vulneráveis. A previsão é que os primeiros aprovados pelo PSAS ingressem na universidade em 2028.

O modelo de avaliação seriada prevê provas anuais baseadas no conteúdo de cada ano do ensino médio. Dessa forma, os alunos do 1º ano serão avaliados sobre os conhecimentos daquela etapa, assim como os do 2º e 3º anos. Apenas na terceira e última fase o candidato precisará escolher o curso desejado.

Foto: Divulgação/UFMG

Inclusão e impactos para diferentes perfis de candidatos

Segundo a UFMG, o novo modelo permite um contato mais gradual dos alunos com a universidade e amplia as opções de ingresso. A seleção será aberta a estudantes do ensino médio, egressos que já concluíram essa etapa e aqueles que cursaram a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A reitora da UFMG destacou que a proposta vem sendo discutida há dois anos, com ampla participação da comunidade acadêmica. "O processo vem sendo discutido há dois anos e foi muito pensado pela instituição com a participação de toda a comunidade, de forma coletiva. Serão três etapas, que podem beneficiar não apenas aqueles estudantes que estão hoje no ensino médio, mas também aqueles que já saíram e preferem fazer uma prova em etapas do que uma prova única no Enem", explicou.

Outro fator relevante é a possibilidade de isenção, parcial ou integral, da taxa de inscrição para candidatos em situação de vulnerabilidade socioeconômica, ampliando a acessibilidade ao novo processo seletivo.

Opiniões dos estudantes sobre o PSAS

O anúncio do PSAS já gera repercussões entre os candidatos ao ensino superior. Melissa Mendes, de 18 anos, que concluiu o ensino médio em 2024 e se prepara para o Enem, avaliou a novidade de forma positiva. "Parece uma ótima ideia. Acho que vai até incentivar os alunos do ensino médio a estudar mais", afirmou.

Por outro lado, Amanda Gonçalves, de 26 anos, formada em psicologia e interessada em cursar fisioterapia, acredita que o modelo beneficia mais os estudantes que ainda estão no ensino médio. Para quem já concluiu essa etapa, a preparação se tornaria mais longa e exigente. "Para os alunos do ensino médio, vai ser interessante, pois eles vão se preocupar com o conteúdo de cada ano. Porém, para a população em geral, não vai ser tão benéfico, porque acho que vai aumentar a concorrência em cursos como medicina ou fisioterapia", analisou.

Críticas e preocupações da comunidade acadêmica

Embora a proposta busque diversificar as formas de ingresso na UFMG, nem todos os setores da comunidade acadêmica estão convencidos de sua eficácia. Diretórios Acadêmicos (DAs) de cursos como física, ciência da computação e sistemas de informação manifestaram preocupação nas redes sociais, alegando que a implementação do PSAS parece ser "mais uma aposta do que uma solução segura".

Os DAs argumentam que não foram apresentados estudos suficientes para comprovar a efetividade do novo método e que ele pode prejudicar estudantes cujas escolas não oferecem uma preparação adequada ou que enfrentam dificuldades ao longo do ensino médio.

Além disso, a publicação de um dos DAs destacou a possibilidade de impacto financeiro: "O tempo de espera é mais longo, não sabemos se vai funcionar, e o modelo pode ser mais prejudicial para quem já enfrenta dificuldades no ensino. Sem falar no custo de implementar tudo isso em um momento de crise financeira nas universidades".

A reitora da UFMG rebateu algumas dessas preocupações, especialmente a alegação de que o PSAS poderia favorecer alunos de escolas particulares. "O PSAS vai respeitar todos os parâmetros da lei de cotas, ou seja, 50% dessas vagas serão destinadas automaticamente para a escola pública. Não tem como mudar esse cenário", garantiu Sandra Goulart.

O Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e Montes Claros (APUBH) também se pronunciou sobre o tema. No dia 24 de janeiro, a diretoria solicitou a ampliação do debate dentro da comunidade acadêmica e, posteriormente, anunciou uma reunião interna para uma avaliação detalhada do processo antes de se posicionar oficialmente.

Histórico do modelo e experiência em outras universidades

O modelo de seleção seriada não é uma novidade no Brasil. Criado pela Universidade de Brasília (UnB) em 1995, ele foi desenvolvido como alternativa ao vestibular tradicional, com o objetivo de integrar a educação básica ao ensino superior e promover melhorias na qualidade do ensino.

Atualmente, mais de 20 universidades no país já utilizam esse formato, incluindo cinco em Minas Gerais. Segundo Sandra Goulart, estudos avaliados pelo Conselho Superior da UFMG indicam que "quanto mais você diversifica os processos seletivos de entrada na universidade, mais você inclui aquela pessoa que, por uma razão ou outra, não conseguiu entrar na universidade".

Tiago Coelho de Souza, professor e decano de graduação da UnB, avalia a adoção do PSAS pela UFMG como positiva. "A ideia não é substituir o Enem, o método PSAS é uma maneira de complementar o exame", afirmou. Para ele, a inclusão desse formato amplia as possibilidades de ingresso, permitindo que alunos com diferentes perfis possam concorrer às vagas universitárias.

Outro ponto destacado pelo professor é a forma como o PSAS acompanha o desempenho progressivo do estudante ao longo do ensino médio, permitindo uma avaliação mais precisa do aprendizado. "A prova única pega só um recorte do cenário total. Já o PSAS garante uma análise mais detalhada da evolução do aluno", explicou Coelho.

Além disso, ele ressaltou que o processo seriado pode favorecer a permanência dos estudantes na universidade, pois garante um maior ingresso local. "Ter uma mescla de alunos é a melhor opção. Como o Enem já garante a captura nacional de alunos, o método atende principalmente a alunos locais", comentou.

Sobre a possível mudança na rotina de estudos dos alunos do ensino médio, Coelho acredita que o impacto será positivo. "O conteúdo da prova é só o daquele ano, ele não é cumulativo, e é informado previamente", esclareceu. Ele também mencionou que na UnB os pesos das notas aumentam conforme os anos avançam. "No primeiro ano, por exemplo, 16% da nota é acumulada. Já no segundo são 25%".

Para o professor, o modelo é um processo de crescimento que precisará ser avaliado ao longo dos anos. "A universidade precisa acompanhar e aprimorar a implementação do PSAS, garantindo que ele funcione de maneira justa e eficiente para todos os candidatos", concluiu.

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