Parto revela atuação de seita russa no Brasil e leva à prisão de líder na Argentina
Grupo usava fachada espiritual para tráfico sexual e explorou vítimas em Brasília; líder foi capturado após jovem russa dar à luz em Bariloche
Por Plox
05/04/2025 13h02 - Atualizado há cerca de 1 mês
O parto de uma jovem de 22 anos em San Carlos de Bariloche, na Argentina, expôs uma rede internacional de tráfico sexual liderada por uma seita russa com atuação antiga no Brasil. A organização, que funcionava sob a fachada de práticas espirituais como ioga e xamanismo, foi desmantelada pelas autoridades argentinas, levando à prisão de seu líder e de outros membros.

O Ministério Público da Argentina anunciou que 21 pessoas de nacionalidade russa foram denunciadas por participação em uma organização criminosa com objetivos de tráfico sexual e redução à servidão. Entre os acusados, está Konstantin Rudnev, fundador da Ashram Shambala, também conhecida como Daoin (International Community of Women for Healthy Lifestyle).
A jovem que deu à luz teria sido trazida da Rússia com a intenção de registrar o bebê como filho de Rudnev, o que facilitaria sua obtenção da nacionalidade argentina e posterior entrada no Brasil. A mulher foi recrutada por meio de um espaço espiritual de fachada, explorando sua vulnerabilidade.
Investigações nos aeroportos de Bariloche e Buenos Aires levaram à prisão de vários membros do grupo. Em Bariloche, sete russos foram detidos, entre eles seis mulheres em estado debilitado e um homem. Com eles, a polícia encontrou comprimidos que testaram positivo para cloridrato de cocaína. Duas outras mulheres foram capturadas em uma van no estacionamento do aeroporto.
No momento da prisão, Rudnev tentou se ferir com uma lâmina de barbear que carregava na carteira, mas foi impedido. Segundo o promotor do caso, a seita controlava até o que os integrantes comiam, autorizando compras e impondo jejuns como forma de punição.
Das 21 pessoas denunciadas, 13 permanecem presas. A seita, criada por Rudnev nos últimos anos da União Soviética, chegou a operar em 18 regiões da Rússia. Em 2013, o líder foi condenado a 11 anos de prisão por violação de direitos humanos, abuso sexual e distribuição de drogas, mas fugiu e seguiu atuando clandestinamente até ser capturado na Argentina.
Entre 2005 e 2011, a organização atraiu seguidores no Brasil, principalmente em Brasília. Um casal de artistas relatou ter sido escravizado na Rússia após se envolver com a seita. Eles conheceram Mahasidda Nayada, uma das líderes do grupo, que esteve em Brasília em 2015 oferecendo palestras. Após identificar sua ligação com o grupo, o casal denunciou a mulher à Polícia Federal e à Secretaria de Direitos Humanos.
Segundo o relato, o casal foi convencido a se separar como parte da filosofia da seita e submetido a abusos físicos e sexuais. Também relataram imposição de jejuns e castigos físicos, caso não conseguissem recrutar novos adeptos. O ingresso nos cursos da organização custava cerca de 3 mil euros.
Uma servidora pública de Brasília também afirmou ter integrado a Ashram Shambala de 2002 a 2011. Segundo ela, a maior parte do seu salário era destinada às atividades do grupo, e viu diversos jovens passarem frio e fome. Ela também conheceu Nayada, que segundo ela “só não passou fome porque era muito bela e dominava todas as técnicas sedutoras da seita”.
A mulher reforçou que a seita utilizava diferentes nomes e disfarces espirituais para recrutar e manipular seguidores. Mesmo após a prisão de Rudnev em 2009, a organização continuou suas atividades por meio de outras líderes em países como Brasil e Argentina, onde continuaram a explorar vítimas até a recente prisão do fundador.