Zé do Caixão resgatado: Obra inédita do mestre do horror brasileiro atinge as telonas
O filme narra a história de Marina e Juvenal, um casal cujo passeio idílico no campo leva ao encontro com uma idosa enigmática que, posteriormente, se revela uma bruxa
Por Plox
05/07/2023 07h12 - Atualizado há mais de 1 ano
Eugenio Puppo, notório pesquisador do cinema nacional, fez um achado digno de um arqueólogo do celuloide. Ao organizar uma retrospectiva em 2007, ele mergulhou no acervo de José Mojica Marins, o célebre criador de Zé do Caixão e ícone do cinema de horror brasileiro, e descobriu 20 rolos de Super-8, material considerado perdido e que estava à beira de um destino irreversível: a lata de lixo.
Era um tesouro cinematográfico, o material bruto do inacabado filme “A Praga”, dirigido por Mojica em 1980 e baseado na história de Rubens Francisco Luchetti. Puppo descreve com entusiasmo o momento em que, seguindo as instruções deixadas por Mojica, confirmou a origem daqueles rolos.
O Processo de Restauração
Apesar do material encontrado, Puppo reconheceu que o projeto estava longe de estar completo. Faltavam cenas fundamentais a serem filmadas, além da necessidade de montagem do filme, dublagem de diálogos e a criação da trilha sonora.
O filme narra a história de Marina e Juvenal, um casal cujo passeio idílico no campo leva ao encontro com uma idosa enigmática que, posteriormente, se revela uma bruxa. Juvenal torna-se vítima de uma maldição que o aflige com uma ferida voraz por carne fresca. E é nesse cenário de horror que surge o icônico Zé do Caixão, como um mestre de cerimônias que introduz a assustadora trama.
Puppo descreve a experiência de registrar as cenas adicionais, sob a orientação de Mojica, como "inesquecível". Um desafio notável foi a construção da trilha sonora, uma vez que não havia nenhum roteiro sonoro disponível.
Foi necessário um esforço meticuloso para resgatar os diálogos, contando com a ajuda de uma pessoa com deficiência auditiva que, através da leitura labial, conseguiu transcrever de forma precisa os diálogos dos atores.
Os produtores utilizaram cenas de testes de atores realizados por Mojica nos anos 1980, que estavam contidos em dois rolos Super-8 não relacionados a “A Praga”. Essas cenas adicionais foram incorporadas na narrativa como pesadelos do protagonista.
Para finalizar o filme, o material original passou por um processo de digitalização quadro a quadro em resolução 4K no laboratório ColorLab, nos EUA.
Puppo reconhece a importância do filme, identificando-o como um dos últimos trabalhos "sérios" de Mojica antes da realização de "Encarnação do Demônio", lançado em 2008. Ele ressalta que “A Praga” é uma contribuição essencial para a vasta filmografia de Mojica, que se destaca pela autenticidade na construção do horror brasileiro.