Pisa 2022 revela que apenas 1% dos estudantes brasileiros alcançam notas ideais em matemática
Estudo mostra que grande maioria dos alunos no Brasil está abaixo do nível mínimo em matemática, enquanto especialistas apontam impactos da pandemia e desafios educacionais
Por Plox
05/12/2023 09h46 - Atualizado há mais de 1 ano
O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022 trouxe dados preocupantes sobre a educação no Brasil. Segundo o relatório divulgado nesta terça-feira (5), apenas 1% dos estudantes brasileiros alcançou notas 5 ou 6 em matemática, consideradas ideais. Para comparação, em Singapura, líder do ranking, 41% dos estudantes estão nessa faixa e a média da OCDE, que organiza a prova, é de 9%.

A pesquisa incluiu 10.798 alunos de 599 escolas brasileiras. Destes, somente 27% alcançaram pelo menos o nível 2 de proficiência em matemática, em contraste com 69% da média da OCDE e 85% nos países com melhor desempenho educacional. Alarmantemente, 73% dos estudantes brasileiros ficaram abaixo do nível mínimo necessário para aplicar conceitos matemáticos em situações cotidianas.
Especialistas consultados pela reportagem ressaltam a influência negativa da pandemia de Covid-19 em um sistema educacional já problemático, especialmente no ensino de matemática. Segundo Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta, "esse problema se arrasta há pelo menos 20 anos. Desde o primeiro Pisa, os dados já mostravam que 70% dos alunos estavam abaixo do nível 2."
Marcelo Viana, diretor-geral do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), atribui o baixo desempenho também à fragilidade do sistema educacional público e às desigualdades socioeconômicas. Enquanto escolas privadas adaptaram rapidamente suas metodologias durante a pandemia, as públicas enfrentaram maiores desafios.
Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), ressalta que a queda no desempenho já era esperada. "Essa queda se concentrou em alunos de melhor desempenho, de pelo menos nível 3, em relação a 2018. O que percebemos é que o Brasil ia mal em matemática e quem mais sofreu é o perfil de alunos que tinha bom desempenho em 2018," afirma Faria.
No entanto, Faria destaca um aspecto positivo: "A queda não foi tão grande quanto poderia ser. De alguma forma, o sistema conseguiu controlar defasagens extremas." Ele também menciona a necessidade de superar mitos sobre a aprendizagem matemática e a importância de conectar alunos e educadores às suas reais identidades matemáticas.
Para melhorar o ensino de matemática no país, os especialistas sugerem buscar soluções pedagógicas eficazes, tanto em escolas brasileiras de destaque quanto em países líderes do ranking Pisa. Eles enfatizam a importância do investimento na formação e valorização dos professores, além de melhorar a infraestrutura escolar.
O Impa aponta que a valorização dos professores vai além do salário, englobando também a formação e capacitação adequadas. "O Brasil já provou que pode produzir matemáticos de excelência e professores, também. Temos medalhista Fields. Nós podemos fazer, mas temos de nos inspirar nos bons exemplos," conclui Viana.