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Sexo no casamento: orientações e limites do novo documento do Vaticano

Nota doutrinal do Dicastério para a Doutrina da Fé, aprovada pelo papa Leão XIV, reconhece legitimidade da intimidade em períodos de infertilidade, rejeita métodos contraceptivos artificiais e reforça que o sexo é moralmente lícito apenas entre homem e mulher casados

05/12/2025 às 07:59 por Redação Plox

O Vaticano divulgou, no fim de novembro, uma nota doutrinal que volta a tratar de um tema recorrente e sensível dentro da Igreja Católica: o lugar do sexo no casamento. O documento, assinado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e aprovado pelo papa Leão XIV, reforça que a sexualidade não existe apenas para gerar filhos. Ela também fortalece o vínculo entre marido e mulher, aprofunda a vida afetiva e pode ser vivida como expressão de amor e de caridade conjugal.

Na sequência, o texto apresenta o que considera permitido, proibido e recomendado para casais católicos em sua vida sexual.


Vaticano publicou uma nota doutrinal sobre um tema recorrente e delicado na Igreja Católica: o papel do sexo no casamento

Vaticano publicou uma nota doutrinal sobre um tema recorrente e delicado na Igreja Católica: o papel do sexo no casamento

Foto: Reprodução

Sexo como expressão de amor dentro do casamento

A nota reconhece de forma explícita que o ato sexual, no matrimônio, não precisa ter a procriação como objetivo imediato. A relação pode acontecer para nutrir a união, fortalecer o vínculo e expressar afeto entre os cônjuges.

A união sexual, como forma de expressão da caridade conjugal, deve naturalmente permanecer aberta à comunicação da vida, mesmo que isso não signifique que deva ser um objetivo explícito de todo ato sexual. Dicastério para a Doutrina da Fé

O Vaticano reafirma que a esterilidade não desqualifica o casamento nem restringe a vida sexual do casal. Segundo o documento, mesmo quando não há possibilidade de filhos, a sexualidade continua sendo legítima e moralmente válida, pois a dimensão unitiva do sexo — sua capacidade de unir e aprofundar o vínculo — permanece integralmente.

O texto lembra ainda que períodos naturais de infertilidade podem ser vividos com ternura e intimidade. Nesses momentos, a sexualidade também é vista como caminho para cultivar fidelidade, cuidado e proximidade emocional, e não apenas como meio de gerar filhos.

Proibições mantêm linha tradicional da Igreja

Mesmo ao reconhecer a importância afetiva e espiritual da união sexual, o documento reafirma a rejeição aos métodos contraceptivos considerados “artificiais”, como pílulas, DIU e preservativos. Embora esses métodos não sejam citados nominalmente, a orientação segue a posição tradicional, indicando apenas métodos naturais para espaçar gestações.

A nota também sublinha que o sexo continua sendo considerado moralmente lícito apenas entre um homem e uma mulher casados. Relações extraconjugais — ainda que motivadas por busca de afeto ou satisfação — são tratadas como ruptura da fidelidade e do vínculo sacramental.

O texto rejeita arranjos afetivos que rompem a exclusividade do casal. Ao reafirmar a monogamia como característica essencial do matrimônio, o documento exclui relações múltiplas, arranjos não exclusivos ou vínculos paralelos, por entender que eles contradizem a ideia de “uma só carne” e a unidade própria do casamento.

Recomendações para a vida sexual dos casais

Segundo o documento, a união sexual deve ser compreendida como parte da “caridade conjugal”: uma expressão concreta de amor comprometido e responsável, que envolve corpo, afeto e dimensão espiritual. A sexualidade é apresentada como linguagem do amor, que renova o laço e a entrega mútua.

A nota insiste na ideia de “pertença recíproca” como pilar do matrimônio. O sexo é descrito como uma forma de reafirmar que o outro ocupa um lugar central na própria vida e que existe um compromisso duradouro assumido entre duas pessoas.

O documento, ao mesmo tempo, critica relações guiadas apenas pelo desejo ou pelo descontrole. Condena a “busca descontrolada pelo sexo” e o que chama de “individualismo consumista pós-moderno”, apontando problemas ligados tanto ao excesso quanto à negação das finalidades unificadora e procriativa da sexualidade.

Sexo e espiritualidade no matrimônio

Para fundamentar suas orientações, o texto retoma a tradição bíblica que apresenta a união entre homem e mulher como imagem da relação entre Deus e seu povo. Nessa perspectiva, o sexo no casamento é visto como sinal de aliança, não apenas como fonte de prazer ou instrumento de reprodução.

Em uma abordagem considerada incomum para documentos doutrinais, o Vaticano também faz referência a poetas e filósofos, como Pablo Neruda e Eugenio Montale, além de reflexões de Kierkegaard sobre o amor conjugal. Essas menções são usadas para destacar a dimensão afetiva, simbólica e até poética da vida sexual dentro do casamento.

A síntese apresentada pelo texto é que o prazer sexual é reconhecido e valorizado, desde que inserido em um contexto de amor, compromisso e responsabilidade. O problema, segundo a nota, está no prazer desvinculado de um vínculo estável, que terminaria em solidão e vazio existencial.

Na visão do Vaticano sob Leão XIV, o sexo é permitido, desejado e positivamente avaliado quando vivido no casamento como expressão de amor, em uma união exclusiva, duradoura e marcada pela fidelidade e pelo cuidado mútuo.

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