Popularidade de Lula cai no Nordeste e preocupa governo

Pesquisa revela insatisfação crescente com o governo, impulsionada pela inflação e alta de impostos na região que foi decisiva para a vitória do petista em 2022

Por Plox

06/02/2025 10h03 - Atualizado há cerca de 1 mês

A queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, descrita como um "tombo histórico" pelo ex-presidente do PT José Dirceu, acendeu um alerta no governo. O recuo mais expressivo ocorreu no Nordeste, onde o percentual de aprovação do presidente caiu de 67% para 60% entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, segundo pesquisa do instituto Quaest.

Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O Nordeste foi a única região do Brasil em que Lula venceu o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022, com uma margem de 69,3% dos votos válidos – um diferencial de 12,5 milhões de votos que foi decisivo para sua vitória apertada no segundo turno. Agora, com a perda de apoio entre nordestinos, cresce a preocupação sobre o impacto dessa tendência na disputa presidencial de 2026.

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), reconheceu o cenário desafiador e cobrou do governo federal mais investimentos na região. “O apoio do Nordeste a Lula não está garantido em 2026”, alertou Bezerra em entrevista ao jornal O Globo.

Inflação e alta de impostos pesam na insatisfação

Entre os principais fatores para a queda da aprovação de Lula no Nordeste estão o aumento da inflação, especialmente dos alimentos, e a elevação de impostos que atingem diretamente a população mais pobre.

A taxação das importações online, adotada em julho de 2024 e apelidada de "taxa das blusinhas", também gerou forte insatisfação. Muitos consumidores que compravam produtos de sites como AliExpress, Shein e Shopee viram os preços dispararem, afetando pequenos negócios e trabalhadores informais – um grupo numeroso na região, que já enfrenta a maior taxa de desemprego do país (8,7% no terceiro trimestre de 2024, contra 6,4% na média nacional).

O economista Pedro Menezes, do jornal baiano A Tarde, avalia que a taxação impactou não apenas compras pessoais, mas também a aquisição de equipamentos e eletrônicos usados por pequenos empreendedores. “Não fazia sentido que essa importação não fosse taxada, mas o jeito que foi feito tornou a pequena importação proibitiva”, criticou.

Polêmica do Pix e desgaste com informais

Outro fator que pode ter contribuído para o desgaste do governo foi a polêmica envolvendo o Pix. No início de 2025, a Receita Federal ampliou o monitoramento das transações eletrônicas para identificar movimentações suspeitas. A nova regra exigia que bancos e aplicativos de pagamento reportassem operações acima de R$ 5 mil por mês para pessoas físicas.

A medida foi alvo de desinformação, impulsionada por lideranças bolsonaristas, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que disseminou a alegação falsa de que o governo planejava taxar o Pix. O boato ganhou força nas redes sociais e gerou revolta entre trabalhadores informais, como ambulantes e entregadores, que dependem do sistema para receber pagamentos.

Diante da repercussão negativa, o governo recuou e desistiu da ampliação do monitoramento. Para a cientista política Monalisa Torres, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), a comunicação do governo falhou ao explicar a medida. “Já havia um aumento do desconforto com o governo após medidas como a taxação das importações online, e a crise do Pix só intensificou isso”, analisou.

Eleitores de Lula relatam frustração

A insatisfação com o governo já impacta a confiança de eleitores que votaram em Lula em 2022. Marcos Farias, de 21 anos, morador de Camalaú (PB), afirmou que sente no bolso os efeitos das novas taxas.

"Eu votei no Lula e confesso que estou insatisfeito com o governo, em parte por conta de impostos altos. Nunca um governo faturou tanto e cobrou tanto da população", desabafou à BBC News Brasil.

Farias era um consumidor assíduo de produtos importados, como peças de computador e acessórios para produção musical. Ele contou que, entre 2021 e 2023, comprou 38 itens no AliExpress, mas, desde que os impostos aumentaram, reduziu drasticamente suas compras.

Já o advogado Yago Pereira da Silva, morador da região metropolitana do Recife, reclama principalmente da alta no preço dos alimentos. “O café subiu muito, arroz e feijão também. Hoje eu não votaria nele [Lula], esperaria mais um pouco para tirar minha conclusão”, afirmou.

Governo tenta reagir para conter desgaste

Diante da queda de popularidade, o governo Lula começou 2025 prometendo medidas para controlar a inflação dos alimentos. No entanto, especialistas apontam que fatores como a crise climática e oscilações do mercado internacional tornam esse desafio ainda mais complexo.

A estratégia de comunicação também passou por mudanças. O publicitário Sidônio Palmeira assumiu a Secretaria de Comunicação Social da Presidência, substituindo o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Uma das primeiras ações foi reforçar a presença de Lula nas redes sociais com uma linguagem mais descontraída.

Na terça-feira (4/2), as contas oficiais do presidente divulgaram um vídeo em que Lula aparece vestindo um boné azul com a frase “O Brasil é dos Brasileiros”, acompanhado de efeitos sonoros típicos de videogames. A ideia, segundo o ministro Alexandre Padilha, foi uma resposta ao uso de bonés vermelhos por bolsonaristas, com o slogan da campanha de Donald Trump, “Make America Great Again”.

A oposição, por sua vez, reagiu rapidamente. Parlamentares bolsonaristas apareceram na abertura do Congresso vestindo bonés verde-amarelos com a frase “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026” e ergueram pacotes de café e peças de picanha em protesto contra a alta dos preços.

Com as eleições de 2026 no horizonte, o governo Lula enfrenta o desafio de reverter a perda de apoio no Nordeste, uma região historicamente favorável ao PT, mas que agora demonstra sinais de insatisfação.

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