PLOX adota postura de não divulgar nomes e fotos de assassinos responsáveis por ataques

Mudanças na cobertura de ataques e o efeito contágio no Brasil

Por Plox

06/04/2023 21h37 - Atualizado há mais de 1 ano

Nos últimos meses, o Brasil tem enfrentado um aumento no número de ataques a escolas e outros locais públicos, levantando debates sobre como a mídia deve cobrir esses eventos. A PLOX BRASIL, juntamente com outros veículos de imprensa, decidiu não publicar nomes e fotos dos agressores responsáveis por ataques, seguindo orientações de pesquisadores que argumentam que a divulgação dessas informações pode incentivar outros jovens a cometer crimes semelhantes.

Na parte superior: Larissa Toldo e Bernardo Pabst. Inferior: Bernardo Machado e  Enzo Barbosa — Foto: Reprodução/Redes sociais
 

O chamado "efeito contágio" sugere que os agressores, muitas vezes isolados socialmente, buscam notoriedade e atenção através de suas ações violentas. Esse tema já é amplamente debatido nos Estados Unidos, onde a violência nas escolas ocorre com mais frequência e há mais tempo do que no Brasil.

O aumento da violência nas escolas brasileiras

A questão ganhou destaque no Brasil após o ataque à escola estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, em 27 de março, que gerou preocupação com a escalada de violência no ambiente escolar. Desde agosto, foram registrados nove ataques no país, mais de um por mês. Essa quantidade de ocorrências era registrada a cada dois anos entre 2002 e julho de 2022, segundo um levantamento feito por pesquisadores da Unesp e da Unicamp.

A busca por soluções e o papel da mídia

Telma Vinha, professora da Unicamp e coordenadora do levantamento, pondera que é fundamental refletir sobre como informar e gerar debate sem provocar o efeito contágio. Ao mesmo tempo, especialistas e organizações de mídia defendem a necessidade de analisar cada caso de forma individual, sem adotar regras rígidas que possam prejudicar a qualidade da informação.

Katia Brembatti, presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), defende a discussão de protocolos, mas sem impor regras taxativas. "Não se pode proibir a divulgação de nomes, até porque é preciso analisar caso a caso", afirmou Brembatti.

A influência das redes sociais e a busca por responsabilidade

Além das discussões sobre a cobertura de ataques por veículos de imprensa tradicionais, especialistas também destacam o papel das redes sociais e das fake news no efeito contágio. Flávio Lara Resende, presidente da Abert (associação de TVs e rádios do Brasil), afirma que é urgente uma regulação das plataformas que as responsabilize por propagar conteúdos nocivos.

Marcelo Reich, presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais), também ressalta a importância de controlar o que se prolifera como um "esgoto digital" nas redes sociais, onde muitos pseudoveículos buscam cliques sem pudor, hipervalorizando a figura do assassino.

Essas reflexões mostram a complexidade do debate sobre a cobertura de ataques no Brasil e o papel da mídia na busca por soluções para prevenir futuros eventos trágicos.

Educação e medidas preventivas como parte da solução

Além da responsabilidade da mídia na cobertura desses eventos, especialistas apontam para a necessidade de investir em educação e implementar medidas preventivas nas escolas e comunidades. Ações como fortalecer o acompanhamento psicológico dos estudantes, promover atividades extracurriculares e incentivar a inclusão e o diálogo podem ser fundamentais para identificar e mitigar riscos de violência.

Segundo a psicóloga e pesquisadora Maria Helena Franco, é crucial entender as causas que levam os jovens a cometer atos violentos e buscar soluções de longo prazo que abordem o problema em sua raiz. "É necessário um olhar mais atento para as relações interpessoais e para o ambiente escolar, criando espaços de diálogo e apoio emocional", afirma Franco.

A importância da colaboração entre escolas, famílias e comunidades

Outro aspecto destacado pelos especialistas é a colaboração entre escolas, famílias e comunidades no desenvolvimento de estratégias de prevenção e intervenção. Ao trabalhar em conjunto, esses atores podem compartilhar informações e recursos para identificar e intervir em situações de risco antes que elas evoluam para atos violentos.

A implementação de programas de conscientização e formação também pode ser uma ferramenta valiosa. Por exemplo, capacitar educadores, pais e responsáveis a reconhecer sinais de alerta e saber como agir em casos de ameaças ou comportamentos suspeitos pode ser um passo importante na prevenção de ataques.

 

A discussão sobre a cobertura de ataques violentos no Brasil e o papel da mídia nesse contexto é apenas uma parte de um debate mais amplo sobre como prevenir e lidar com a violência nas escolas e comunidades. A responsabilidade compartilhada entre veículos de imprensa, redes sociais, instituições educacionais, famílias e comunidades é essencial para enfrentar esse desafio e buscar soluções efetivas que possam reduzir a ocorrência de eventos trágicos.

 


 

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