Ajuste no mercado interno diminui preço da carne bovina no Brasil
"Nós estamos presenciando um aumento na disponibilidade de carne bovina no mercado interno", afirmou Fernando Henrique Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado.
Por Plox
06/06/2023 10h43 - Atualizado há mais de 1 ano
Dados recentes sugerem que a inflação da carne bovina, que disparou durante a pandemia, está mostrando sinais de diminuição. A oferta crescente da carne bovina no mercado interno é o principal fator que contribui para essa tendência de queda, de acordo com analistas do setor. Aproveitando-se da alta nos preços dos últimos anos, os produtores aumentaram seus investimentos, resultando em um aumento da capacidade produtiva do país.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e considerado o índice oficial de inflação no Brasil, registrou quatro quedas mensais consecutivas nos preços da carne de janeiro a abril. A queda mais acentuada ocorreu em fevereiro (-1,22%), enquanto a mais suave foi registrada em abril (-0,45%).
"Nós estamos presenciando um aumento na disponibilidade de carne bovina no mercado interno", afirmou Fernando Henrique Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado. "Esta tendência vai além do embargo às exportações para a China que aconteceu no primeiro trimestre." De acordo com dados do IBGE, o abate de bovinos no Brasil aumentou 4,7% no primeiro trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período de 2022.
Iglesias acrescenta que "O aumento da oferta pode ser atribuído ao crescimento dos investimentos no setor a partir do segundo semestre de 2019. O dinheiro investido resultou em expansão da capacidade produtiva". Em 2023, a oferta interna de carne bovina deve aumentar 6,44% em relação a 2022, de acordo com a estimativa da Safras & Mercado.
Redução de custos de produção contribui para a queda dos preços
Jackson Bittencourt, economista e coordenador do curso de ciências econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), aponta para um segundo fator que explica a queda dos preços: a diminuição dos custos de alimentação animal. "O recuo dos preços de commodities agrícolas, como milho e soja, que são utilizados na produção de rações, está associado ao aumento da oferta de carne e à redução dos custos de produção", explicou Bittencourt.
No entanto, ele adverte que, embora se espere que os preços continuem a cair para o consumidor ao longo do ano, eles provavelmente não retornarão ao nível pré-pandemia. "O preço ainda é alto. Está baixando, mas provavelmente não retornará ao nível pré-pandemia", disse Bittencourt.
Consequências para os pecuaristas
Os preços em toda a cadeia pecuária nacional diminuíram significativamente em maio, de acordo com uma nota do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Pesquisadores da instituição também afirmaram que esse cenário está diretamente ligado ao aumento da oferta de animais. "O aumento da disponibilidade em 2023, especialmente de fêmeas, é o resultado dos investimentos feitos pelo setor pecuário nos últimos anos", afirmou o Cepea. Até 31 de maio, o indicador Cepea/B3 de preços por arroba de boi gordo acumulou uma queda mensal de 10,37%.
Tendências futuras e implicações políticas
As implicações políticas do preço da carne se tornaram evidentes nas redes sociais, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus aliados destacando a recente diminuição dos preços. Durante as eleições do ano passado, o consumo de carne tornou-se um tema de debate político. Lula, que era candidato na época, afirmou que os brasileiros deveriam ser capazes de voltar a fazer churrascos e comer picanha, um corte tradicionalmente mais caro.
Os dados do IPCA mostram que, no acumulado do ano (até abril), 16 dos 18 cortes de carne sofreram variações negativas nos preços. A maior queda foi registrada na alcatra (-5,24%), seguida pelo filé-mignon (-5,23%) e pelo fígado (-4,77%). O preço da picanha caiu 3,80%.
No acumulado de 12 meses, 15 dos 18 cortes apresentaram queda de preços até abril. O fígado teve a maior queda (-8,25%), seguido pelo peito (-8,18%) e pelo acém (-8%). A menor queda em 12 meses foi registrada no preço da picanha, que caiu apenas 0,09%.
Um estudo do banco Santander também apontou para a alta oferta de carne como um fator determinante para a diminuição dos preços para o consumidor. O relatório sugere que o chamado ciclo do gado, com o abate de uma maior porcentagem de fêmeas este ano, está relacionado a essa tendência. No entanto, se os frigoríficos decidirem recompor suas margens de lucro ou se houver um aumento da demanda impulsionado pela massa salarial dos brasileiros, a queda dos preços poderia ser atenuada.
Apesar destes fatores, o relatório dos economistas Felipe Kotinda, Daniel Karp e Gabriel Couto do banco Santander, aponta que é esperado que o aumento da oferta prevaleça sobre os demais fatores. Eles estimam que a deflação (queda) nos preços da carne pode chegar a 4% em termos anuais no IPCA até dezembro de 2023.