Roubo de cápsulas de Césio-137 em Minas Gerais revive temores do acidente de Goiânia
As cápsulas de Césio-137 furtadas estavam seladas e blindadas com aço inoxidável, o que, segundo especialistas, as torna seguras para transporte.
Por Plox
06/07/2023 07h57 - Atualizado há mais de 1 ano
Na última quinta-feira, 29 de junho, foi reportado o desaparecimento de duas cápsulas contendo Césio-137 de uma mineradora na cidade de Nazareno, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) foi notificada e deu início a uma investigação interna.
Comparação com o Acidente de Goiânia
Esse incidente trouxe à tona memórias do acidente radiológico ocorrido em Goiânia, no final da década de 1980, quando uma fonte de Césio-137 foi indevidamente manipulada, levando à morte de quatro pessoas e afetando centenas de outras. O acidente de Goiânia foi considerado o maior acidente radioativo fora de uma usina nuclear e ganhou notoriedade internacional.
Análise da Segurança do Material Furtado
Segundo informações da CNEN, as cápsulas de Césio-137 furtadas são classificadas como de baixo risco, com uma atividade radioativa de cerca de 5 mCi, o que é quase 300 mil vezes menor do que a fonte envolvida no acidente de Goiânia.
Elisabeth Yoshimura, professora e pesquisadora do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), assegura que, mesmo se as cápsulas fossem violadas, os riscos não seriam comparáveis aos do desastre em Goiânia. "Não tem como. A atividade dessa fonte é muito baixa se comparada, por exemplo, com uma fonte de radioterapia, material que causou o acidente na cidade goiana", afirmou Elisabeth.
Riscos à Saúde e Necessidade de Recuperação
As cápsulas de Césio-137 furtadas estavam seladas e blindadas com aço inoxidável, o que, segundo especialistas, as torna seguras para transporte. No entanto, apesar da baixa radioatividade, o manuseio inadequado do material ainda pode representar riscos à saúde.
Elisabeth Yoshimura alerta que, mesmo sem violar a cápsula, uma pessoa que carregue o material próximo ao corpo poderia estar exposta a quase 500 vezes a radiação natural, caso estivesse a uma distância de um metro e meio. "Mesmo sem violar a cápsula, se deixou ela inteira e colocou no bolso, a pessoa já está se expondo à radiação gama. Quanto mais próxima, maior a quantidade de radiação", destacou a especialista.
Educação e Conscientização
A pesquisadora também expressou preocupação com a falta de conhecimento da população sobre os riscos associados à manipulação de materiais radioativos . "Já fizemos uma pesquisa em escolas, e a maioria não reconhece o símbolo de perigo radioativo. O mais comum é dizer que o desenho é um ventilador", relatou Elisabeth. Ela também suspeita que o furto possa ter sido motivado pela estrutura de metal onde o Césio-137 é armazenado, em vez da substância em si, já que, segundo ela, "Desconheço que tenha mercado para venda de Césio".
Contextualização do Acidente de Goiânia
Vale ressaltar que o acidente de Goiânia em 1987 teve início quando uma fonte de Césio-137 foi encontrada em um terreno abandonado, onde antes funcionava o Instituto Goiano de Radioterapia. O dono de um ferro-velho desmontou o equipamento para reaproveitar o chumbo, sem saber que estava lidando com material radioativo. O Césio-137, que emitia uma luz azulada, chamou a atenção de moradores locais, que chegaram a levar amostras do material para suas casas. A exposição ao material resultou em várias mortes e contaminação de centenas de pessoas.
Urgência na Recuperação e Prevenção de Futuros Incidentes
Dada a gravidade dos eventos em Goiânia, o furto das cápsulas de Césio-137 em Minas Gerais sublinha a importância de garantir a segurança e a rápida recuperação do material. Também destaca a necessidade de educação e conscientização pública sobre os perigos e os cuidados necessários ao manusear materiais radioativos.
As autoridades e a comunidade científica enfatizam a importância de manter a vigilância e adotar medidas de segurança rigorosas para prevenir incidentes similares no futuro. .