Setor do cacau sofre com tarifa dos EUA e pode perder R$ 190 milhões
Indústria teme retração imediata após sobretaxa de 50% sobre exportações brasileiras para o mercado americano
Por Plox
06/08/2025 13h43 - Atualizado há 1 dia
Uma medida adotada pelos Estados Unidos pode ter efeitos drásticos sobre a indústria brasileira do cacau. A aplicação de uma sobretaxa de 50% nas exportações de produtos derivados da amêndoa está prestes a provocar um prejuízo estimado em R$ 190 milhões ao setor ainda em 2025, conforme cálculo da Câmara Setorial de Cacau e Sistemas Agroflorestais do Ministério da Agricultura (Mapa).

Os principais produtos impactados são as amêndoas in natura, pasta, manteiga e o pó de cacau — todos componentes fundamentais na fabricação de chocolates. A nova tarifa compromete a competitividade desses itens no mercado internacional, especialmente nas relações comerciais com os EUA, que sozinhos compraram mais de US$ 64,8 milhões em derivados do cacau brasileiro apenas no primeiro semestre de 2025.
A cadeia produtiva do cacau no Brasil é vasta e emprega cerca de 200 mil pessoas, entre produtores, trabalhadores industriais e comerciantes. Desses, aproximadamente 93 mil são pequenos agricultores familiares. Segundo a Câmara Setorial, a taxa elevará drasticamente a ociosidade do parque processador nacional, já prejudicado pela escassez de amêndoas e pelo aumento dos preços internos. A expectativa é que a produção industrial seja reduzida em até 37%, o que coloca em risco 70 mil empregos diretos e indiretos.
Estados como Bahia, Pará e São Paulo serão os mais atingidos. A Bahia, por exemplo, que se destaca como principal centro de processamento e um dos maiores produtores nacionais, havia registrado crescimento de 63,3% nas exportações de manteiga e pó de cacau entre janeiro e junho deste ano, comparado ao mesmo período de 2024. O cacau representa 13,2% da balança comercial do estado, segundo a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia.
“O fechamento do canal de exportação para os EUA, sem alternativas comerciais imediatas, tende a ampliar a ociosidade da indústria e comprometer empregos e investimentos nas regiões produtoras”
, aponta relatório técnico do Mapa.
Além das perdas financeiras, o setor teme retrações nos preços pagos ao produtor e uma redução no interesse pelo cultivo, agravando os riscos à sustentabilidade econômica da cacauicultura. A situação também ameaça atrair menos investimentos e reduzir a viabilidade de operação em diversas plantas industriais, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.
Para enfrentar o cenário, a Câmara Setorial solicitou uma resposta emergencial ao Ministério da Agricultura e ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), incluindo medidas como crédito facilitado, compensações tributárias e negociação diplomática com os EUA para tentar derrubar ou suavizar a medida.
O vice-presidente e ministro do Mdic, Geraldo Alckmin, informou que o governo prepara um plano de contingência que incluirá, entre outras ações, compras governamentais e linhas de crédito emergenciais. Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet, demonstrou otimismo ao afirmar que, em conversas com empresários do setor, surgiu a expectativa de que os Estados Unidos possam reconsiderar a aplicação da tarifa em produtos como carne, café e cacau.
De acordo com os dados do Mdic, a Argentina lidera as importações de produtos brasileiros como manteiga e pasta de cacau, representando 52,1% das compras entre janeiro e junho de 2025. Os EUA, no entanto, aparecem como o segundo maior comprador, com 20,3%, o que reforça a gravidade do impacto dessa decisão sobre a economia do setor no Brasil.