Medicamento contra obesidade reduz uso de cocaína em testes com ratos
Pesquisa sueca indica que a semaglutida pode inibir vício e recaídas em usuários de cocaína, ao reduzir os efeitos da dopamina
Por Plox
06/09/2025 07h19 - Atualizado há 2 dias
Uma nova aplicação para a semaglutida, remédio já conhecido no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade, vem sendo explorada por cientistas suecos. Em testes conduzidos com ratos de laboratório, a substância apresentou uma surpreendente capacidade de reduzir tanto o uso quanto as recaídas associadas ao vício em cocaína.

A pesquisa foi realizada na Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e publicada na revista científica European Neuropsychopharmacology. O foco do estudo foi analisar como o fármaco — presente em medicamentos amplamente utilizados como Ozempic e Wegovy — poderia interferir nos mecanismos de dependência da droga.
Durante os experimentos, os ratos foram treinados para se auto-administrar cocaína, desenvolvendo, assim, comportamentos viciantes. Após esse estágio, os pesquisadores passaram a aplicar a semaglutida nos animais. Os efeitos foram significativos: os ratos demonstraram uma queda média de 26% no uso da substância, redução de 62% nos comportamentos que simulavam recaídas e uma diminuição de 52% na motivação para buscar a droga.
A pesquisadora Cajsa Aranäs, autora do estudo, comentou:
\"Nossos resultados mostram que um medicamento já conhecido pode afetar comportamentos-chave por trás do vício em cocaína. Esperamos que isso possa abrir caminho para novos tratamentos, mas são necessários ensaios clínicos antes de sabermos se o mesmo efeito ocorre em pacientes\"
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A ação da semaglutida, de acordo com os cientistas, parece estar ligada à sua influência sobre a dopamina — neurotransmissor cuja liberação em excesso é provocada pelo consumo de cocaína. A droga cria um pico de prazer no cérebro, e ao atenuar esse efeito, a semaglutida pode estar reduzindo o desejo compulsivo pela substância.
Apesar dos resultados animadores, os pesquisadores alertam que o modo como o remédio atua no cérebro ainda precisa ser mais bem compreendido. A professora Elisabet Jerlhag, que liderou a equipe, destacou a relevância da descoberta:
\"Se esses resultados em ratos se confirmarem em ensaios clínicos, a semaglutida pode se tornar a primeira opção farmacológica para complementar a terapia psicológica e os programas de apoio\"
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Com a crescente busca por soluções eficazes no tratamento da dependência química e a escassez de recursos disponíveis, essa descoberta abre caminho para novas abordagens terapêuticas. O próximo passo, segundo os especialistas, será verificar se os efeitos observados nos animais se repetem em humanos, o que exigirá testes clínicos aprofundados.