Mulheres que migram: conheça a trajetória de uma pernambucana no Vale do Aço
Atualmente, Sandra está no sexto período de Pedagogia na Universidade de Uberaba (UNIUBE), cursando a distância.
Por Bruna Oliveira
06/11/2024 11h06 - Atualizado há 14 dias
Sandra nasceu em Glória do Goitá, uma pequena cidade no interior de Pernambuco, onde a vida nunca foi fácil. Com cerca de 30 mil habitantes, o município sofria com a escassez de recursos. Na infância, faltava de tudo, desde água até comida, e era preciso andar longas distâncias para buscar água potável, pois o abastecimento era irregular. Filha de uma família com cinco filhos, sua sobrevivência dependia do trabalho incansável do pai na lavoura de cana-de-açúcar. Desde cedo, Sandra também começou a ajudar nos campos, carregando consigo um sonho que, na época, ela chamava de “bobo”: mudar sua realidade.
Aos 18 anos, tomou a decisão de deixar Glória do Goitá em busca de novas oportunidades. Foi morar em Coronel Fabriciano com sua avó, que já vivia no Vale do Aço. Mesmo com o apoio familiar, sua jornada foi marcada por desafios. Ela conheceu seu ex-marido, com quem viveu por 14 anos, mas enfrentou resistência no relacionamento ao decidir seguir seu sonho de trabalhar. O marido pediu que ela escolhesse entre ele e o emprego. Com um coração dividido, Sandra optou pelo trabalho, e, após muita insistência, ele aceitou sua decisão.
O caminho dela até o primeiro emprego foi árduo. Enviou diversos currículos, mas enfrentava dificuldades: além da falta de experiência, o sotaque e o preconceito pela sua origem e cor complicavam ainda mais suas chances. Ela persistiu e, finalmente, conseguiu seu primeiro emprego no comércio. A partir desse momento, Sandra não parou de lutar. Enfrentou obstáculos por ser de fora, mas nunca desistiu.
Em meio a essas batalhas,Sandra perdeu sua avó, que havia sido um pilar em sua vida. A dor da perda foi profunda, mas ela seguiu em frente. No Vale do Aço, precisou recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS) e compartilha que o atendimento que encontrou ali era bem diferente do que conhecia em Pernambuco, onde os recursos eram extremamente escassos.
Após o término de seu casamento, a pernambucana renasceu para si mesma. Reconectou-se com aquela jovem de 18 anos cheia de sonhos. Com muita determinação, comprou uma casa, um carro e um terreno. Pode parecer modesto, mas, para ela, é uma vitória significativa.
A vida não poupou Sandra de desafios. O sonho de ser mãe foi interrompido quando, após o casamento, descobriu que tinha endometriose e precisou remover os ovários. Embora considere a possibilidade de adoção, sente falta de vivenciar a experiência de uma gravidez.
Ela se adaptou ao Vale do Aço, mas o choque cultural foi evidente. Acostumada com a culinária apimentada de Pernambuco e as celebrações vibrantes de São João e Carnaval, ela se deparou com uma cultura mais tranquila. Mesmo assim, abraçou Timóteo como seu lar.
Uma vez por ano, Sandra volta à sua terra natal para visitar a família, mas, mesmo estando lá, ela se lembra de Timóteo. No final de 2023, já com as passagens compradas para abraçar sua mãe, enfrentou novamente a dor de perder o chão. Sua mãe faleceu. Ela conseguiu chegar a tempo para se despedir pela última vez.
Atualmente, a pernambucana está no sexto período de Pedagogia na Universidade de Uberaba (UNIUBE), cursando a distância. Além do estágio em uma escola municipal pela manhã, trabalha no comércio até a noite. Para ela, trabalho nunca foi problema; ao contrário, representa a chance de construir uma vida melhor.
Após tantas superações, ela revela seu novo “sonho bobo”: conquistar um diploma e inspirar outras pessoas a nunca desistirem, mostrando que, mesmo em meio às adversidades, é possível construir uma vida digna e cheia de realizações.