PM mata jovem negro a tiros em mercado de SP; família contesta versão e denuncia execução
Familiares questionam alegação de legítima defesa e criticam abordagem do policial militar à paisana em incidente na Zona Sul de São Paulo
Por Plox
06/11/2024 11h51 - Atualizado há 3 meses
Gabriel Renan da Silva Soares, jovem de 26 anos, foi morto a tiros por um policial militar à paisana em frente a um supermercado Oxxo no bairro Jardim Prudência, na Zona Sul de São Paulo, na noite de domingo (3). O policial Vinicius de Lima Britto alega ter agido em legítima defesa, após Gabriel ser acusado de furtar produtos de limpeza. Contudo, a família de Gabriel contesta essa versão, acusando o PM de execução.
![](https://static.plox.com.br/uploads/body/2024-11/db04c46b84b6add9fff6-assassinatonegroFOTO.jpeg)
O incidente ocorreu por volta das 22h40 no estacionamento do mercado, localizado na Avenida Cupecê. Segundo o pai de Gabriel, Antônio Carlos Moreira Soares, o filho foi alvejado por oito tiros e estava desarmado. "Meu filho foi executado com oito tiros. Ele não estava armado nem nada. Tiram meu filho da gente. Meu filho era tudo pra mim", desabafou Soares.
Investigação em andamento
O caso está sob investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), especializado em mortes decorrentes de intervenções policiais. Segundo nota da Secretaria de Segurança Pública, exames periciais foram requisitados ao Instituto de Criminalística e ao Instituto Médico Legal (IML) para ajudar na elucidação dos fatos. O inquérito busca esclarecer as circunstâncias do caso, e diligências adicionais estão em andamento.
Versões conflitantes
De acordo com o relato do PM Britto, ele estava fazendo compras quando percebeu Gabriel tentando furtar produtos do mercado. O policial afirmou que, ao ser abordado, Gabriel teria dito que estava armado, colocando a mão dentro de sua blusa de moletom, o que, segundo o PM, justificou a reação armada. Britto carregava uma pistola Glock .40 e, segundo seu depoimento, atirou após se sentir ameaçado. O boletim de ocorrência detalha que Gabriel foi atingido por 11 tiros distribuídos no corpo, incluindo três no tórax, um no rosto, e outros nos braços e orelha.
Por outro lado, um funcionário do mercado relatou que o confronto ocorreu fora do estabelecimento, onde Gabriel teria escorregado ao tentar fugir com produtos. Ainda segundo o atendente, Gabriel teria feito um gesto como se estivesse armado, o que levou Britto a abrir fogo.
Oxxo lamenta incidente e colabora com autoridades
A rede Oxxo informou que o PM não era funcionário do estabelecimento e destacou que o mercado "pauta suas ações no respeito às pessoas". A empresa declarou que seus colaboradores acionaram as autoridades imediatamente e que as imagens de segurança foram disponibilizadas para a investigação.
"Menino doce e sonhador"
Silvia Aparecida da Silva, mãe de Gabriel, revelou que o filho enfrentava uma longa batalha contra a dependência química e completaria 27 anos na próxima quinta-feira. Em depoimento, ela descreveu Gabriel como "um menino doce, meigo e sonhador" que nutria planos de melhorar de vida. "Eu estou destruída por dentro. Tenho problema no coração, uso marca-passo. Estou sofrendo muito, é uma dor que não tem como explicar", desabafou Silvia.
A mãe contou que Gabriel morava com ela e os irmãos em uma residência próxima ao mercado e que, na manhã do dia seguinte, ao perceber que o filho não retornara, saiu para procurá-lo com o ex-marido. A confirmação da morte veio de um funcionário do mercado que, ao vê-los, mencionou que um "nóia" havia sido morto ali na noite anterior. Silvia e Antônio então identificaram Gabriel.
Contradições e críticas da família
Para a família, a narrativa do policial e do atendente não condiz com a realidade. O pai de Gabriel questiona o relato de que o jovem teria voltado a confrontar o PM após o primeiro disparo: “Se você tomar um tiro, qual é a sua reação? Sair correndo, não voltar para o local que o cara está atirando.”
Fátima Taddeo, advogada e parente da família, criticou a abordagem violenta e a quantidade de tiros disparados: "a vida dele estava valendo uma caixa de sabão. Um policial preparado precisou de oito tiros para evitar que roubasse essa caixa de sabão". Taddeo ainda afirmou que a justificativa de legítima defesa é frequentemente usada contra jovens negros da periferia, questionando a intenção por trás do uso de força letal.
O caso foi registrado no DHPP como morte decorrente de intervenção policial, resistência e tentativa de roubo, e um inquérito foi instaurado para análise detalhada do ocorrido.