O impacto da limpeza excessiva na saúde

Higiene é um conjunto de ações realizadas nos momentos adequados, como ao manusear alimentos crus, usar o banheiro e cuidar de animais de estimação.

Por Plox

07/05/2023 10h37 - Atualizado há mais de 1 ano

A busca incansável pela limpeza, principalmente durante a pandemia de covid-19, tem levantado preocupações entre especialistas, que alertam para a importância de diferenciar limpeza de boa higiene. Enquanto a limpeza se refere à remoção de sujeira e pó, a higiene diz respeito à proteção contra micróbios nocivos, como norovírus, vírus da gripe, covid-19 e bactérias como a salmonela.

Sally Bloomfield, presidente do Fórum Científico Internacional sobre Higiene Doméstica e professora honorária da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, afirma que as pessoas têm obsessão pela limpeza como forma de proteção contra germes. No entanto, ela ressalta que higiene é um conjunto de ações realizadas nos momentos adequados, como ao manusear alimentos crus, usar o banheiro e cuidar de animais de estimação.

 

A relação entre limpeza, higiene e saúde

Estudos mostram que crianças que crescem em fazendas e são expostas a uma maior diversidade de micro-organismos tendem a ter menos asma, alergias e condições autoimunes. A hipótese da higiene, levantada pelo epidemiologista britânico David Strachan, sugere que a exposição a germes e infecções durante a infância ajuda a desenvolver o sistema imunológico das crianças, protegendo-as contra alergias.

No entanto, pesquisadores como Graham Rook, professor emérito de microbiologia médica da University College London (UCL), argumentam que a exposição a "velhos amigos" - organismos não infecciosos presentes em grande parte da nossa história evolutiva - é o que treina o sistema imunológico para não reagir exageradamente a micróbios inofensivos. A susceptibilidade de uma criança a desenvolver alergias, portanto, não está relacionada à limpeza, mas sim à exposição a diferentes tipos de micro-organismos.

O equilíbrio entre higiene e exposição a micróbios

Rook e Bloomfield, em um estudo de 2021, concluíram que não somos "limpos demais" para o nosso próprio bem. Eles afirmam que as crianças recebem os insumos microbianos necessários para desenvolver um sistema imunológico saudável através das vacinas, do ambiente natural e da microbiota benéfica obtida das mães durante o parto.

"Práticas de higiene direcionadas em locais e momentos fundamentais de risco podem maximizar a proteção contra infecções, minimizando eventuais impactos da exposição aos micróbios essenciais", aponta o estudo. Segundo Bloomfield, é impossível manter uma casa completamente higiênica, mas ao intervir nos momentos certos, é possível lidar com a maioria dos riscos.

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