Remédios para emagrecer podem comprometer eficácia da pílula anticoncepcional
Autoridade britânica em saúde alerta que medicamentos como Ozempic e Wegovy podem interferir na absorção dos contraceptivos orais
Por Plox
07/06/2025 07h23 - Atualizado há 1 dia
A utilização de medicamentos à base de análogos do GLP-1, amplamente prescritos no combate à obesidade, pode impactar negativamente a eficácia dos contraceptivos orais, segundo alerta emitido pela agência reguladora do Reino Unido (MHRA).

Os fármacos afetados incluem nomes populares como Wegovy, Mounjaro, Saxenda, Victoza, Ozempic e Rybelsus. Essas substâncias atuam nos mecanismos naturais do corpo ligados à saciedade e à regulação do metabolismo, retardando o esvaziamento gástrico — o que pode interferir diretamente na absorção dos anticoncepcionais ingeridos por via oral.
De acordo com o endocrinologista Renan Montenegro Jr., presidente do Departamento de Lipodistrofia da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), o efeito é especialmente crítico nas primeiras semanas de uso, período em que a lentidão do trânsito digestivo é mais acentuada, além de haver maior ocorrência de náuseas e vômitos, o que agrava ainda mais o risco de falha na absorção.
Rodrigo Rosa, ginecologista e especialista em reprodução humana, destaca que, para evitar uma gravidez indesejada, o ideal é adotar métodos que não dependem da via digestiva. “Os dispositivos intrauterinos hormonais (DIU) são seguros, altamente eficazes e não sofrem influência desses medicamentos”, explica o médico, que é membro da SBRA e da SBRH.
A fabricante Novo Nordisk, responsável por Wegovy, Ozempic e Rybelsus, informou em nota que, apesar do retardo no esvaziamento do estômago causado pela semaglutida, os estudos clínicos demonstraram que não houve impacto significativo na absorção de contraceptivos contendo etinilestradiol e levonorgestrel.
Já a Eli Lilly, empresa que produz o Mounjaro, esclarece que o próprio documento da bula do remédio já indica o potencial de interferência na absorção de outros medicamentos administrados ao mesmo tempo, recomendando precaução para mulheres grávidas.
Outro ponto de atenção levantado pelos especialistas é o aumento do risco de gravidez nas pacientes com sobrepeso ou obesidade que, ao perder peso com os medicamentos, recuperam a ovulação. $&&$“Mulheres com obesidade podem ter ciclos anovulatórios, e a perda de peso pode restaurar a fertilidade”$, ressalta Montenegro Jr. Casos como a síndrome dos ovários policísticos são mais prevalentes nesse grupo e representam uma das principais causas de infertilidade.
O uso de análogos do GLP-1 também não é recomendado durante a gravidez. A Novo Nordisk reforça que os tratamentos com semaglutida devem ser interrompidos pelo menos dois meses antes de uma gravidez planejada, devido ao longo tempo de eliminação do composto no organismo. A empresa afirma ainda que, embora não haja relatos de malformações ou efeitos severos em bebês, faltam estudos conclusivos sobre os riscos reais na gestação.
Por isso, a orientação de médicos e autoridades é clara: mulheres que utilizam medicamentos para emagrecer devem repensar o método contraceptivo adotado e discutir alternativas mais seguras com seus profissionais de saúde.