Coletor monta biblioteca com livros encontrados nas lixeiras

O trabalhador passava por grandes dificuldades para sustentar a família quando conseguiu o emprego

Por Plox

07/08/2019 11h33 - Atualizado há quase 5 anos

Um homem chamado Luciano Ferreira de Lima, de 37 anos, trabalha como coletor de lixo desde fevereiro de 2017, e em menos de dois anos e meio de profissão já coleciona cerca de 200 livros encontrados nas lixeiras da rua, em Sorocaba-SP.

Casado e com dois filhos, um de 10 e outro de cinco anos, Luciano passava por grandes dificuldades para sustentar a família quando conseguiu o emprego. Ele conta que “no começo foi difícil, eu não me alimentava bem e sentia fraqueza nos percursos. Mas eu ainda acho inúmeros livros no lixo, e os meus companheiros de trabalho quando acham, me dão. Hoje eu ganho também alguns de presente”.

(Foto: arquivo pessoal)

(Foto: arquivo pessoal)

Ele começou a achar livros nos lixos, o que foi notado pelos colegas e pelas pessoas nas ruas. Luciano afirma que o hábito da leitura é uma constante em sua vida: “Eu acho o livro, levo para casa e dou uma reformada. Eu li já centenas de livros, autores conhecidos. Gosto de ler bastante história e obras científicas. Para mim, todo livro, independente do autor, gosto de ler, sempre tem algo a nos ensinar. Eu não julgo o livro pela capa não”, contou.

Luciano mora em uma casa com dois cômodos que já foi tomada pelas obras. “As pessoas que descartam o livro, poderiam doar. Mas se a pessoa tivesse a mentalidade de que o livro é uma arma poderosa para a educação, que ele pode mudar a vida de outras pessoas, acredito que ela pensaria duas vezes antes de descartar o livro”, ressaltou.

 

(Foto: arquivo pessoal)

(Foto: arquivo pessoal)

Trajetória
Em sua infância, com uma família de nove irmãos, a mãe morreu e o pai se tornou alcoólatra. Diante da situação, aos 11 anos ele abandonou os estudos. Ainda na adolescência acabou se envolvendo com drogas e com a criminalidade. De acordo com o portal Razões Para Acreditar, a falta de emprego o levava a cometer furtos, até que um dia ele foi detido e começou a repensar sobre a vida. Luciano diz que ao sair do presídio, “eu saí focado em mudar de vida e de estudar”.

Ele retomou os estudos em 2014 e fez supletivo. Desempregado e morando longe da escola, ele percorria 12 quilômetros para estudar. Um dia a professora o chamou e lhe deu uma bicicleta de presente, que “tinha sido comprada com um dinheiro arrecadado por todos os alunos. A partir disso, eu ganhei mais incentivo”.

Ele conta que tinha dificuldade com a escola por ser uma pessoa extremamente tímida, tinha vergonha de perguntar, não escrevia e nem falava bem, então a professora o chamou para conversar. “Minha professora de português da época, a Sueli, me chamou para conversar e disse que para que eu tivesse um progresso na escrita e na fala, a leitura me ajudaria muito, e que eu aprenderia a me expressar melhor. E eu adotei esse hábito, foi então que aprendi a gostar de ler”, declarou.

(Foto: arquivo pessoal)

(Foto: arquivo pessoal)

Atualmente, Luciano está se formando em História e enfatiza que “quem tem conhecimento, não importa onde está, consegue tudo”. O catador ainda acrescenta ainda que “é através do conhecimento que conseguimos enfrentar os desafios do cotidiano, com ele, nos tornamos iguais e levo isso na periferia, não importa se você é pobre, se você tem conhecimento, você tem tudo”.

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