Conflito com Musk ameaça serviços essenciais no Brasil: escolas, saúde e segurança podem perder conexão via satélite

Especialistas destacam dependência brasileira de serviços de internet via satélite da Starlink, enquanto Elon Musk mantém relação comercial limitada no país.

Por Plox

07/09/2024 21h38 - Atualizado há 3 meses

Elon Musk, apesar de ser um dos empresários mais influentes do mundo, tem pouco a perder com seus negócios no Brasil, avaliam especialistas. Enquanto a Tesla, principal empresa de Musk, não comercializa veículos no país e importa lítio de outras regiões, e o X (antigo Twitter) gera apenas prejuízos, é a Starlink que mantém uma presença comercial significativa com 7,5% de seus clientes em território brasileiro. Contudo, a dependência brasileira de suas conexões via satélite em áreas críticas como postos de saúde, escolas em locais isolados, forças armadas e policiamento de fronteiras e estradas coloca esses serviços em risco.

Foto: reprodução

Dependência de satélites da Starlink

O Brasil tornou-se dependente da infraestrutura de satélites da Starlink para fornecer internet em áreas remotas, principalmente na região Norte, que historicamente sofre com restrições de conexão. A empresa detém cerca de 0,5% do mercado de internet banda larga no Brasil, com forte presença no Centro-Oeste, impulsionada por clientes do agronegócio. David Nemer, professor e pesquisador no Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, destaca: "A Starlink tem antenas instaladas em 90% dos municípios da Amazônia e esse número só tende a crescer".

Concorrência e custo da conexão via satélite

Apesar da concorrência com outras 52 empresas habilitadas pela Anatel, como HughesNet, Viasat e Telebras, a Starlink se destaca por oferecer a conexão via satélite mais barata e com menor latência. A assinatura residencial da Starlink custa a partir de R$ 184 mensais, mais impostos, além do investimento inicial na compra de uma antena.

Além disso, o Brasil possui o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), que poderia fornecer internet, mas enfrenta dificuldades na contratação do serviço, que atualmente é oferecido pela ViaSat. Lucas Fonseca, fundador da empresa de negócios aeroespaciais Airvantis, explica que, apesar de viável, a latência do SGDC é significativamente maior devido à sua órbita geoestacionária, a quase 36 mil km da Terra, comparada aos satélites de baixa órbita da Starlink.

Operação da Starlink no Brasil e recomendações de Musk

Embora a Starlink mantenha uma sede no Brasil apenas para fins contábeis e regulatórios, a operação local é gerida por sete representantes comerciais autorizados. A empresa iniciou suas atividades no Brasil em janeiro de 2022 após adquirir uma licença da Anatel por R$ 102 mil. Recentemente, Vitor Urner, sócio-fundador da Starlink Brazil, solicitou desligamento da empresa após um embate judicial envolvendo o X, afirmando: "Não falo mais pela empresa e não dou entrevistas".

Relatos indicam que Musk recomendou aos funcionários da SpaceX no Brasil que deixassem o país, conforme um comunicado interno obtido pelo The Wall Street Journal. Procurada, a SpaceX não respondeu aos pedidos de entrevista da Folha de S.Paulo, assim como os escritórios de advocacia que representam a empresa no STF.

Impacto estratégico e geopolítico

O crescimento global da Starlink concede a Musk um poder político significativo. Alcides Peron, professor de relações internacionais da Fecap, ressalta: "Musk passa a ser quem determina quais conteúdos podem ser veiculados, uma vez que controla a circulação de dados — isso é viabilizado pelo controle da infraestrutura comunicacional". Essa influência ocorre em meio à mudança na política aeroespacial dos EUA, que reduziu o papel da NASA em favor de empresários dispostos a investir no setor.

O Brasil, embora não seja vital para a Starlink, representa um ponto estratégico para a empresa, com 250 mil clientes locais, segundo a própria Starlink, contrariando dados da Anatel. Globalmente, a Starlink possui 3,3 milhões de assinantes em 99 países.

Outros negócios de Musk no Brasil

Apesar da crescente influência da Starlink, outros negócios de Musk têm pouca ou nenhuma atividade no Brasil. A Tesla nunca demonstrou interesse no mercado brasileiro, e a única aproximação foi a possibilidade de compra da mineradora de lítio Sigma Lithium, que não avançou. Os principais fornecedores de lítio da Tesla estão na China e Austrália, com a Bolívia detendo a maior reserva mundial do minério.

Além disso, empresas como Neuralink, The Boring Company e Musk Foundation também não atuam no Brasil. Essas empresas focam em áreas como neurotecnologia, transporte e construção de túneis, e pesquisa em energias renováveis e exploração espacial.

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