Bicarbonato de sódio é aliado vital contra intoxicação por metanol
Substância usada na emergência corrige a acidez no sangue e ajuda a conter danos graves enquanto o tratamento definitivo é providenciado
Por Plox
07/10/2025 11h47 - Atualizado há 6 dias
Nos casos graves de intoxicação por metanol, a aplicação rápida de bicarbonato de sódio pode ser a chave para garantir a sobrevivência do paciente até que o tratamento definitivo esteja disponível.

Essa substância tem um papel crucial: ela neutraliza a acidez extrema causada pela metabolização do metanol em ácido fórmico — um composto tóxico que afeta diretamente a produção de energia pelas células e pode comprometer funções vitais como as do cérebro, coração e rins.
Ao ser ingerido, o metanol sofre uma transformação no fígado, convertendo-se em formaldeído e, posteriormente, em ácido fórmico. Essa sequência desencadeia um processo de acidose metabólica, tornando o sangue perigosamente ácido e dificultando a atuação normal dos órgãos.
“Quando o corpo transforma o metanol em ácido fórmico, o sangue torna-se extremamente ácido — o que pode comprometer o funcionamento do cérebro, do coração e de outros órgãos vitais”, afirma o médico Luís Fernando Penna, do Hospital Sírio-Libanês.
Nesse contexto, o bicarbonato de sódio age como um tampão químico: ele absorve o excesso de acidez no sangue, permitindo que o corpo recupere parte do seu equilíbrio interno. Essa neutralização é apenas temporária, mas ganha tempo valioso até que procedimentos como hemodiálise ou administração de antídotos — fomepizol ou etanol farmacêutico — sejam realizados.
Diferente dos antídotos, que bloqueiam a ação da enzima responsável por transformar o metanol em toxinas, o bicarbonato combate os efeitos imediatos da acidose. É uma resposta emergencial importante, segundo os protocolos hospitalares, recomendada quando o pH sanguíneo do paciente cai abaixo de 7,3.
A aplicação da substância, no entanto, não é feita por via oral. O bicarbonato precisa ser diluído e administrado diretamente na veia, em ambiente hospitalar, com constante monitoramento médico. Isso porque tanto a acidose quanto o excesso de alcalinidade podem ser prejudiciais. “Como qualquer medicamento, há risco se a dose for inadequada. Se houver exagero, o corpo pode passar do ponto e ficar alcalino demais, o que também é perigoso”, explica Álvaro Pulchinelli, toxicologista do Grupo Fleury.
Em comunicado técnico recente, o Ministério da Saúde e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira recomendaram que o uso do bicarbonato seja feito de forma agressiva, porém controlada, com doses ajustadas conforme a gravidade da acidose. Essa intervenção precoce pode ajudar a reduzir o risco de sequelas neurológicas e visuais.
“Ele compra tempo. Ao corrigir o pH do sangue, o bicarbonato impede que o organismo entre em colapso metabólico enquanto o tratamento definitivo é providenciado”, resume Penna.
“É essa intervenção precoce que pode reduzir o risco de sequelas neurológicas e visuais graves”, completa o especialista.
Mesmo com seus benefícios comprovados, o bicarbonato não é isento de efeitos colaterais. Em alguns pacientes, ele pode elevar a pressão arterial, aumentar a concentração de sódio e afetar o equilíbrio de minerais como cálcio e potássio, essenciais para o funcionamento cardíaco e muscular. Ainda assim, diante da gravidade da intoxicação por metanol, os especialistas garantem que os benefícios superam os riscos, desde que o uso seja feito de forma segura.
Os casos de intoxicação por metanol têm preocupado autoridades de saúde. Até o dia 5 de outubro de 2025, o Ministério da Saúde havia registrado 225 notificações, com 16 confirmações e 209 ainda em análise. Foram contabilizadas 15 mortes, duas confirmadas e 13 em investigação. São Paulo concentra aproximadamente 85% dos registros, com 14 casos confirmados e dois óbitos.
Para conter o avanço, a Polícia Civil de São Paulo intensificou fiscalizações em adegas e distribuidoras, com prisões e apreensões de garrafas suspeitas de adulteração. A Vigilância Sanitária e o Instituto de Criminalística também atuam na análise de amostras coletadas.
Em resposta à crise, o governo brasileiro comprou mais de 2 mil ampolas de antídotos específicos para intoxicação por metanol, reforçando os estoques das redes hospitalares públicas e privadas em todo o país.