Lula e Trump reaproximam Brasil e EUA em meio a crise do café

Em telefonema amistoso, presidentes discutem tarifa de 50% que encarece o café nos EUA e derruba exportações brasileiras.

Por Plox

07/10/2025 12h06 - Atualizado há 6 dias

A primeira conversa telefônica entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump marcou uma nova etapa nas relações entre Brasil e Estados Unidos. O diálogo ocorreu em meio à crise gerada pela tarifa de 50% imposta pelo governo americano sobre produtos brasileiros, que vem elevando o preço do café nos Estados Unidos e reduzindo drasticamente as exportações do grão nacional.


Imagem Foto: Reprodução


De acordo com informações obtidas pela BBC News Brasil, o próprio Trump reconheceu durante o telefonema que os americanos estão 'sentindo falta' de produtos brasileiros, especialmente do café, que se tornou mais caro e escasso desde o início da cobrança adicional. O café brasileiro, responsável por cerca de um terço do consumo americano, foi um dos principais temas do encontro virtual.


Nos Estados Unidos, o preço da bebida subiu 3,6% em agosto, o maior aumento mensal em 14 anos, enquanto a inflação geral ficou em 0,4%. Em um ano, a alta acumulada chega a 20,9%, um recorde não visto desde 1997. A inflação do café tem sido impulsionada tanto pela tarifa imposta por Washington quanto por problemas climáticos em países produtores.



A escassez é sentida pelos consumidores americanos: dois terços dos adultos no país tomam café diariamente, e o consumo da bebida cresceu 7% desde 2020. O mercado americano, que consome mais de 450 milhões de xícaras por dia, depende quase totalmente das importações — e o Brasil é o principal fornecedor. Sem o produto brasileiro, a pressão sobre os preços se intensificou.


Trump comentou que a nova tarifa buscava proteger a indústria americana, mas reconheceu que a medida teve efeitos colaterais. Lula, por sua vez, pediu formalmente a retirada da cobrança e destacou que o comércio entre os países sempre foi mutuamente vantajoso. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as vendas brasileiras para os EUA caíram 20,3% em setembro, com o café registrando uma queda de 47% em volume exportado.



O impacto atingiu em cheio o agronegócio nacional. Em setembro, as exportações de café renderam US$ 113,8 milhões — 31,5% menos do que no mesmo período de 2024. Já as importações de produtos americanos cresceram 14,3%, totalizando US$ 4,35 bilhões, o que resultou em um déficit comercial de US$ 1,77 bilhão para o Brasil.


Durante o telefonema, que durou cerca de 30 minutos, Lula também abordou questões políticas. Ele pediu o fim das sanções impostas a autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes. O Palácio do Planalto informou que a conversa ocorreu em tom cordial e que ambos concordaram em se encontrar em breve. Entre os locais cogitados, estão a Cúpula da ASEAN, na Malásia, e a COP30, em Belém (PA).


Trump, em sua rede Truth Social, confirmou o diálogo e afirmou que teve 'uma ótima conversa telefônica' com Lula.
'Discutimos muitos assuntos, mas o foco principal foi a economia e o comércio entre nossos dois países. Teremos novas discussões e nos encontraremos em um futuro não muito distante. Gostei da conversa — nossos países se darão muito bem juntos!'

Do lado brasileiro, participaram o vice-presidente Geraldo Alckmin, os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Sidônio Palmeira (Comunicação) e o assessor Celso Amorim. O governo americano designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para dar sequência às tratativas comerciais.



O Planalto destacou que Lula vê a retomada do diálogo como uma oportunidade de restaurar a parceria histórica de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente. Com a crise do café no centro das negociações, Brasil e Estados Unidos agora buscam reconstruir pontes que o 'tarifaço' havia abalado.


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