Menino de 4 anos morre baleado em operação policial em Santos; PM é suspeita

Criança brincava na rua quando foi atingida; caso levanta críticas de organizações de direitos humanos e intensifica questionamentos sobre operações policiais

Por Plox

07/11/2024 08h43 - Atualizado há cerca de 1 mês

Na noite de terça-feira (5), Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, foi baleado e morto enquanto brincava com outras crianças no Morro de São Bento, em Santos, litoral de São Paulo. A Polícia Militar realizava uma operação na comunidade, e houve um confronto entre policiais e supostos criminosos, segundo a versão oficial do governo estadual. O menino foi atingido no abdômen, chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. O caso ocorre meses após o pai de Ryan, Leonel Andrade Santos, ter sido morto durante outra operação policial na mesma cidade.

Foto: Pixabay

Confirmação da PM sobre disparo fatal

Durante uma coletiva de imprensa na manhã de quarta-feira (6), o coronel Emerson Massera, da Polícia Militar, afirmou que o tiro que atingiu a criança provavelmente partiu da arma de um policial militar. "Pela dinâmica da ocorrência, nós temos que, provavelmente, o disparo que atingiu o menino partiu de uma arma de um policial militar. O projétil ficou alojado, nós teremos agora condições de fazer o confronto balístico", declarou Massera, acrescentando que a corporação "lamenta muito" o ocorrido.

Outros envolvidos e feridos na ação

A ação também resultou em outros ferimentos e mortes. Uma mulher de 24 anos foi atingida de raspão no braço e liberada após atendimento. Além dela, dois adolescentes, de 15 e 17 anos, foram baleados; o mais velho faleceu, enquanto o outro segue internado sob escolta policial. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), os adolescentes eram suspeitos e foram alvejados durante o confronto com a polícia.

Relatos de moradores, entretanto, apontam que os jovens estavam desarmados e já caídos na sarjeta quando foram atingidos. A mesma fonte afirma que os policiais estavam em um carro descaracterizado e teriam disparado tiros que atingiram o alto do morro, onde várias crianças brincavam na rua.

Repercussão e críticas de organizações

Diversas entidades de defesa dos direitos humanos, incluindo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Instituto Sou da Paz e o Movimento Independente Mães de Maio, criticaram a postura da Polícia Militar de São Paulo e do governo estadual frente ao caso. Em nota conjunta, as organizações denunciaram o que descrevem como uma "cultura de conflito e uso desmedido da força" por parte da polícia, mencionando que a morte de Ryan reflete um padrão de violência nas periferias.

"É inadmissível que a gestão da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, assim como o comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), considere a morte, sobretudo de crianças, como um resultado aceitável da atuação das forças policiais", diz a nota, que também mencionou outros casos recentes, como o de um menino que ficou cego após ser ferido por policiais na favela Paraisópolis e o de Edneia Fernandes Silva, morta em uma praça em Santos durante uma ação policial em março deste ano.

Investigação e providências policiais

A Delegacia Seccional de Santos instaurou um inquérito para investigar o ocorrido, incluindo a análise balística para identificar a origem do disparo que atingiu Ryan. As armas apreendidas durante a operação também passarão por perícia. Enquanto isso, os sete policiais envolvidos na ação foram afastados e receberão apoio psicológico, conforme informou o porta-voz da PM. Segundo a corporação, os agentes são considerados vítimas, pois teriam sido atacados por um grupo de cerca de dez suspeitos enquanto patrulhavam uma área marcada pelo tráfico de drogas.

Em resposta ao episódio, a Polícia Militar anunciou o reforço do policiamento na região do Morro de São Bento, com apoio do Batalhão de Choque. Massera informou que a nova operação terá como foco a identificação e captura dos envolvidos no suposto ataque à equipe da PM. "Nós não sairemos de lá enquanto eles não forem presos, enquanto eles não forem, pelo menos, identificados e responsabilizados", afirmou o coronel.

Histórico de violência envolvendo a família

A trágica morte de Ryan ocorre apenas nove meses após o pai do menino, Leonel Andrade Santos, ter sido morto em outra operação policial em Santos. Em fevereiro deste ano, Leonel foi alvejado por policiais do Comandos e Operações Especiais (COE) durante a chamada Operação Verão. Ele usava muletas devido a uma deficiência adquirida após um confronto anterior com a polícia. O coronel Emerson Massera comentou o histórico criminal de Leonel, mas ressaltou: "Não é legal falar isso nesse momento, porque nós temos uma criança vítima, mas o pai era envolvido com crimes na região e confrontou a polícia em duas oportunidades."

O caso segue sob investigação da Delegacia de Investigações Criminais (Deic) de Santos, em inquérito sob sigilo judicial, conforme comunicado da Secretaria da Segurança Pública.

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