Crime organizado fatura R$ 56,9 bilhões com bebidas falsificadas em 2022, superando receita da Ambev

Produção ilegal de bebidas envolveu facções criminosas e gerou prejuízo bilionário em impostos não recolhidos

Por Plox

07/12/2024 07h45 - Atualizado há 5 dias

O crime organizado movimentou R$ 56,9 bilhões em 2022 com a fabricação de bebidas falsificadas, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O montante ultrapassou o faturamento da Ambev, maior cervejaria do Brasil, que obteve R$ 42,6 bilhões no mesmo período, mesmo incluindo produtos não alcoólicos.

A estimativa do FBSP se baseia em dados da empresa Euromonitor Internacional, que aponta que 25,7% do mercado de bebidas no Brasil operam de forma ilegal. Para chegar ao cálculo, foi utilizada a produção oficial do setor, conforme registrado na Pesquisa Industrial Anual do IBGE.

Foto: Freepik/Banco de imagens

Facções criminosas e prejuízo fiscal

Grupos criminosos como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho estariam à frente da produção de bebidas falsificadas, segundo o relatório. A prática ilegal também acarretou uma perda de R$ 52,9 bilhões em arrecadação de impostos para o governo, conforme levantamento da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF).

Os números foram apresentados nesta sexta-feira (6) ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante um encontro que teve como objetivo entregar um relatório sobre a dimensão da economia ilegal no Brasil. No evento, o presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima, destacou a necessidade de maior articulação entre a Polícia Federal e o Coaf para fortalecer as investigações contra o crime organizado. "Precisamos resolver o gargalo que há entre a Polícia Federal e o Coaf, para que haja produção de provas válidas", afirmou.

"PIB do crime" e principais atividades ilegais

A análise do FBSP apontou que o "PIB do crime organizado" no Brasil chegou a R$ 350 bilhões em 2022. Além da produção de bebidas falsificadas, as principais atividades do crime organizado incluem a fabricação de cigarros ilegais, extração de ouro, produção de combustíveis e lubrificantes, tráfico de cocaína e crimes patrimoniais, como roubos de celulares e fraudes digitais.

A produção ilegal de combustíveis e lubrificantes gerou a maior receita, alcançando R$ 61,5 bilhões. A estimativa foi feita com base nos dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que aponta que 8,7% do mercado de combustíveis opera de forma clandestina. Grande parte do abastecimento dessa atividade seria proveniente da Venezuela, país com a maior reserva de petróleo do mundo.

A venda e o refino ilegal de combustíveis estão associados a crimes ambientais, pois o combustível é usado em maquinários que promovem o desmatamento e o garimpo ilegal, além de abastecer veículos envolvidos no transporte de drogas e mercadorias contrabandeadas.

Expansão para o meio digital e crimes patrimoniais

Outro ponto de destaque do relatório é a migração de atividades criminosas para o ambiente digital. Dos R$ 186,1 bilhões faturados com crimes contra o patrimônio, cerca de R$ 71,4 bilhões foram obtidos por meio de golpes digitais, como furto de celulares, fraudes no Pix, clonagem de cartões de crédito e maquininhas de pagamento adulteradas.

Para o presidente do FBSP, essa transição para o digital é uma evolução natural do crime, pois se trata de uma prática mais lucrativa e menos arriscada. "A prática é lucrativa e mais segura", afirmou Lima.

Rotas de contrabando e apostas online no radar

O estudo também destacou as rotas de contrabando de bebidas e cigarros controladas por facções criminosas, que utilizam caminhos vindos de países vizinhos, como Argentina, Paraguai, Bolívia e Venezuela.

Outro ponto de atenção é o crescimento das apostas online no Brasil, o que, segundo o FBSP, pode abrir espaço para a infiltração de atividades ilícitas. Renato Sérgio de Lima destacou que a legislação atual não possui mecanismos suficientes para impedir a entrada de organizações criminosas nesse mercado. O FBSP planeja lançar um observatório para monitorar o impacto das apostas online na economia do crime.

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