Violência no Rio: 23 crianças baleadas em 2024; corpo de menina de 12 anos será enterrado neste sábado
Dados do Instituto Fogo Cruzado apontam 3 crianças mortas e 18 feridas até o momento; adolescente de 12 anos foi baleada enquanto brincava em praça pública.
Por Plox
07/12/2024 11h11 - Atualizado há 3 dias
O Estado do Rio de Janeiro atingiu a preocupante marca de 23 crianças baleadas em 2024, o que equivale a quase duas vítimas por mês. O levantamento foi realizado pelo Instituto Fogo Cruzado e contabiliza, até a manhã de sexta-feira (6), 3 crianças mortas e 18 feridas. Além disso, o relatório aponta 34 adolescentes baleados no estado, sendo 16 mortos e 18 feridos.
A tragédia ganhou mais um capítulo na noite de quinta-feira (5), quando Kamila Vitória Aparecida de Souza Silva, de 12 anos, foi atingida por disparos de arma de fogo durante um tiroteio na Favela do Guarda, em Del Castilho, Zona Norte do Rio. A menina brincava de queimado com amigos em uma praça pública quando o confronto começou.
Sandro Alves Silva, pai de Kamila, relatou os momentos de desespero: “As últimas palavras foram: 'pai, pai'. Eu respondi: 'deita no chão'. Mas ela tinha sido baleada. Pegamos e levamos para o hospital. Mas ela já estava dando suspiro”, disse, emocionado. O enterro de Kamila está marcado para a tarde deste sábado (7).
Violência em queda, mas números ainda alarmantes
Apesar dos números chocantes, o levantamento aponta uma leve redução no total de crianças baleadas em relação a 2023. No ano passado, o Instituto Fogo Cruzado registrou 24 crianças atingidas por disparos, sendo 9 mortos e 15 feridos. Em 2024, o número de mortos caiu para 3, o que representa uma redução de 66%.
Entre os adolescentes (de 13 a 18 anos), o número de baleados também caiu de 42, em 2023, para 34, em 2024. Naquele ano, 22 adolescentes morreram e 20 ficaram feridos. Já em 2024, foram 16 mortos e 18 feridos. No total, o Rio de Janeiro registrou 66 crianças e adolescentes baleados em 2023, contra 55 em 2024, representando uma redução de 16% no índice geral.
Casos que marcaram o ano de 2024
Ao longo de 2024, diversos episódios de crianças atingidas por tiros chamaram a atenção e destacaram o risco diário enfrentado por menores de idade no Rio de Janeiro.
Fevereiro: Um tiroteio na comunidade do Piraquê, em Pedra de Guaratiba, Zona Oeste, deixou quatro feridos, incluindo uma criança de 9 anos.
Março: Confronto entre milicianos e traficantes em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, resultou em ferimentos em um menino de 5 anos e uma adolescente de 14 anos. Segundo testemunhas, milicianos tentavam cobrar comerciantes quando foram surpreendidos por traficantes.
Abril: Um intenso tiroteio à luz do dia no Centro de Seropédica, também na Baixada Fluminense, deixou duas crianças feridas e um estudante universitário morto. O episódio provocou pânico e correria em uma área de grande movimento, com lojas e veículos atingidos por disparos.
Maio: Uma criança de 7 anos foi baleada durante uma operação da Polícia Militar no Complexo da Mangueirinha, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.
Junho: Outro confronto envolvendo criminosos e policiais, desta vez na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, terminou com uma criança baleada.
Setembro: Uma menina de 5 anos foi atingida nas costas no Morro da Mineira, no Catumbi, enquanto se dirigia à escola. O tiroteio envolveu criminosos que disputavam o controle do tráfico de drogas no local.
Outubro: Uma criança de 3 anos foi baleada na cabeça no bairro Bela Vista, em Belford Roxo, Baixada Fluminense. A menina estava com os pais, saindo de casa para ir ao médico, quando o tiroteio começou.
Novembro: Um menino de 5 anos, identificado como Carlos Eduardo Cabral de Moura, morreu após ser baleado no bairro Nova Belém, em Japeri, Baixada Fluminense. A criança chegou a ser levada ao hospital, mas não resistiu. O confronto começou quando policiais do programa Segurança Presente foram alvo de disparos vindos da comunidade Morro do Sapo.
Repercussão e indignação
Os números de crianças baleadas no Rio de Janeiro reforçam o cenário de violência nas áreas mais vulneráveis do estado. As autoridades de segurança pública enfrentam o desafio de conter os confrontos entre criminosos rivais e as operações policiais em áreas dominadas pelo tráfico de drogas e pela milícia.
A morte de Kamila Vitória, em Del Castilho, gerou comoção nas redes sociais e entre moradores da região. A família e a comunidade lamentaram a perda precoce da menina, que se tornou mais uma vítima da violência armada no Rio de Janeiro.