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Após 57 anos, dona de casa descobre que é bebê roubada em festa de Folia de Reis no interior de SP

Criada em Guarulhos como Marta Regina Ribeiro, mulher de 57 anos confirma por DNA que é Sônia Maria Rodrigues, bebê desaparecida em 1968 em Casa Branca (SP), após investigação do filho jornalista e reencontro com irmãos.

07/12/2025 às 12:54 por Redação Plox

Sequestrada aos sete meses de idade e criada com outro nome, uma dona de casa descobriu aos 57 anos que havia sido roubada de sua família biológica em 1968, na cidade de Casa Branca, no interior de São Paulo. Até então, ela viveu como Marta Regina Ribeiro, acreditando ter sido abandonada pela mãe em Guarulhos, na Grande São Paulo, onde cresceu.

Mulher foi raptada ainda na infância

Mulher foi raptada ainda na infância

Foto: Redes sociais



A história só começou a mudar quando seu filho caçula, o repórter Jonas Santana, autor da reportagem original, decidiu investigar o passado da mãe. Em uma apuração que durou seis anos, ele ajudou a reconstruir o percurso daquela bebê que, registrada como Sônia Maria Rodrigues, foi levada de Casa Branca e acabou adotada informalmente por uma família em Guarulhos.

Versão de abandono sustentou a vida toda

Marta sempre acreditou na narrativa contada pela família que a criou: a de que fora rejeitada, agredida e abandonada pela mãe biológica quando ainda era bebê, em 1968. Essa versão, associada à violência descrita, fez com que ela evitasse revisitar o próprio passado por décadas.

Ela só começou a encarar essa busca quando o filho Jonas, que desde criança a questionava sobre a origem da família biológica, passou a insistir em conhecer suas raízes. O ponto de partida foi a própria documentação de Marta, cheia de brechas e lacunas.

A certidão de nascimento, por exemplo, só foi emitida quando ela tinha dez anos de idade. A família que a criou nunca formalizou a adoção, ficando apenas com a guarda. Por isso, até hoje, os documentos de Marta trazem o nome daqueles que ela acreditou serem seus pais biológicos.

Arquivos revelam boletim de ocorrência em 1968

O quadro começou a mudar quando mãe e filho conseguiram desarquivar o antigo processo de adoção, que detalhava como Marta havia chegado à família em Guarulhos. Anexado ao processo, havia um boletim de ocorrência de 4 de fevereiro de 1968, em que uma mulher chamada Jandira Ribeiro aparecia detida por abandono e maus-tratos.

Embriagada, Jandira declarou à polícia que a bebê de sete meses, chamada Marta, era sua filha, mas que não tinha mais intenção de criá-la. O relato condizia com a história ouvida pela dona de casa durante toda a vida.

Mulher foi raptada ainda na infância, quando era bebê

Mulher foi raptada ainda na infância, quando era bebê

Foto: Redes sociais



Segundo a família de criação, após esse episódio a bebê foi diagnosticada com mal de simioto, um quadro infantil de desnutrição crônica, e ficou em observação no Pronto-Socorro Municipal de Guarulhos. Dias depois, o motorista da ambulância levou a criança para casa e a ofereceu a um casal vizinho, que decidiu acolhê-la.

Em 12 de fevereiro de 1968, o casal procurou a delegacia para oficializar a adoção. Saiu apenas com a guarda provisória, já que Jandira desapareceu depois de ser liberada. Nunca mais se teve notícia dela.

Busca na internet liga caso a bebê roubada em Casa Branca
Mulher sequestrada quando criança e agora adulta

Mulher sequestrada quando criança e agora adulta

Foto: Redes sociais


Com cópias do processo de adoção e dados sobre Jandira, Jonas passou a pesquisar na internet. Ele encontrou o site FamilySearch, plataforma gerida por uma instituição religiosa que mantém um grande acervo de registros genealógicos, e localizou documentos com o nome de Jandira registrados em Casa Branca.

O repórter entrou então em grupos da cidade no Facebook e publicou uma mensagem perguntando se alguém conhecia uma mulher com aquele nome nos anos 1960. A resposta veio no mesmo dia: uma jovem chamada Tamiris Santa Rosa contou que havia na família a história de uma Jandira que teria roubado a filha de sua avó.

As conversas avançaram por mensagens de áudio. Logo surgiu a primeira divergência: a bebê levada pela amiga da família não se chamava Marta, mas Sônia. Pelos relatos, a criança seria Sônia Maria Rodrigues, nascida em junho de 1967, filha de Maria Aparecida Pereira Rodrigues e Sebastião Rodrigues, que na época tinham sete filhos.

O dia em que a bebê sumiu

Segundo os relatos da família de Casa Branca, no início de 1968 Maria Aparecida levou os filhos a uma Folia de Reis, festa tradicional do município, realizada em um parque da cidade. Ela estava acompanhada de uma amiga, identificada como Jandira Ribeiro.

Em determinado momento, a bebê Sônia começou a chorar, e a mãe cogitou voltar para casa mais cedo. A amiga, porém, se ofereceu para ficar com a criança enquanto Maria Aparecida cuidava dos outros filhos no evento. Depois disso, nem a bebê nem Jandira foram vistas novamente pela família.

Com o avanço da troca de informações, Jonas enviou uma foto recente de Marta a Tamiris, que compartilhou a imagem com as parentes de Casa Branca. A reação de uma das filhas de Maria Aparecida, Marilda, foi imediata.

Parece que estou vendo a mãe!Marilda

Um exame de DNA foi feito para tirar as dúvidas. O resultado confirmou a compatibilidade genética: Marta, na verdade, é Sônia, a bebê roubada em 1968. A mãe biológica era Maria Aparecida.

Luto, depressão e buscas interrompidas

A família de Casa Branca relatou que Maria Aparecida ficou em desespero com o desaparecimento da filha. Abalada, teria procurado a polícia da cidade, que registrou um boletim de ocorrência contra Jandira. A mãe também passou a investigar por conta própria, perguntando em cidades vizinhas e indo diariamente à delegacia em busca de notícias.

Após cerca de três meses sem avanços, os policiais teriam interrompido as buscas pela criança. Em 2025, questionada sobre o caso, a delegacia de Casa Branca informou que não encontrou qualquer documento relativo ao episódio.

Os irmãos contam que o sequestro marcou profundamente a família. Maria Aparecida morreu em 1988, aos 56 anos, vítima de insuficiência respiratória aguda, após anos de depressão atribuída ao trauma da perda da filha. Sebastião morreu em 2005. Hoje, Sônia/Marta tem seis irmãos vivos.

Reencontro em Casa Branca após 57 anos

Em abril, mais de cinco décadas depois do sumiço, ela voltou a Casa Branca pela primeira vez desde que foi levada ainda bebê. Lá, conheceu as irmãs Vera, Rosilda, Marilda e Rosângela, além de sobrinhos e uma grande família que a recebeu de forma emocionante.

Como havia sido registrada ao nascer em cartório pelos pais biológicos, a certidão de Sônia Maria Rodrigues foi localizada. Dois meses após o reencontro, os filhos de Marta/Sônia e as irmãs decidiram alugar uma chácara para comemorar, pela primeira vez, o aniversário dela na data verdadeira de nascimento.

A festa, com tema de festa junina, também celebrou os 60 anos de Rosilda, que tinha apenas dois anos quando a irmã foi levada. O evento marcou simbolicamente a reconstrução de laços rompidos desde 1968.

Nome nos documentos e um passado sem respostas

Aos 57 anos, ela ainda não sabe se vai adotar legalmente a identidade de Sônia. A decisão envolve uma série de entraves burocráticos: a mudança de nome e sobrenome alteraria também os documentos dos cinco filhos e dos três netos, incluindo o registro de quem é a mãe e os avós maternos.

Sem uma definição sobre o futuro do nome, o passado também segue com lacunas. Não se sabe exatamente o que aconteceu com Jandira após ser liberada na delegacia em 1968. Entre 2023 e 2025, alguns parentes dela foram localizados por Jonas. Eles relataram que Jandira levava uma vida errante, como andarilha, e que teria morrido há muitos anos, mas nenhum documento foi encontrado para comprovar essa informação.

Entre documentos incompletos, memórias fragmentadas e o trabalho de investigação do filho, a dona de casa que cresceu como Marta tenta agora conciliar duas histórias: a da menina abandonada em Guarulhos e a da bebê Sônia, roubada em uma festa popular e reencontrada pela família biológica quase seis décadas depois.

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