Relacionamentos com homens mais novos: tabu em declínio e reflexo de empoderamento feminino
Pesquisas e depoimentos revelam mudança de perspectiva sobre diferenças de idade em relações amorosas
Por Plox
08/01/2024 08h06 - Atualizado há 8 meses
Mulheres que escolhem parceiros significativamente mais jovens estão reformulando uma narrativa social, outrora vista como tabu. A tendência, antes mantida em discrição por receio de estigmatização, agora é encarada como um sinal de empoderamento e liberdade feminina. Esse novo panorama se destaca na mídia e na cultura popular, com exemplos notáveis como o da cantora Ivete Sangalo e seu marido, 13 anos mais novo, evidenciando essa mudança.
Ivete Sangalo, durante o programa "Pipoca da Ivete", abordou abertamente sua relação com um homem mais novo. “Se espelha na mamãe. Mamãe está pendurada naquele bonitão dela. Daniel é 13 anos mais novo do que eu. O que eu fiz? Estava disponível, para usar um pouco da minha experiência e ensinar um pouquinho para ele”, disse a cantora.
Essa tendência é corroborada por pesquisas acadêmicas. Mirian Goldenberg, doutora em antropologia social e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em seu livro "Por que os Homens Preferem as Mulheres Mais Velhas" (Grupo Editorial Record, 2017), concluiu, após entrevistar 52 casais com mais de dez anos de casamento, onde os homens eram ao menos dez anos mais jovens, que esses casamentos são mais equilibrados e felizes.
Goldenberg observa diferenças culturais no tratamento desse fenômeno. "Em todos os países em que pesquisei, existe preconceito quando a mulher é mais velha do que o homem. Aqui, no Brasil, é mais aceitável que o homem se case com a mulher mais nova, sem preconceitos e sem estigma", analisa, destacando o Brasil como um país ainda marcado pela dominação masculina. Em entrevista a O TEMPO, a pesquisadora pondera sobre a necessidade de questionar os motivos que levam os homens a preferir mulheres mais jovens e por que as brasileiras perpetuam esse tabu.
Mirian também detalha vantagens percebidas por mulheres em relacionamentos com homens mais jovens, como valorização do companheirismo, reciprocidade e confiança, além de maior segurança e proximidade com os parceiros. Homens nesses relacionamentos apontam cuidado diário, carinho e compreensão como aspectos positivos, embora ainda enfrentem o preconceito.
Isabela Aguiar, sexóloga, observa que a diferença de idades pode ser benéfica para ambos, incentivando o autocuidado nas mulheres e promovendo uma dinâmica mais harmoniosa devido à experiência de uma das partes. "Mas, muito mais do que a diferença de idade, interessa, na verdade, a conexão do casal", afirma.
Contudo, há desafios. Carla Cecarello, sexóloga dos sites C-date e Solteiros50, indica que o passado amoroso, preconceitos etários e o ciúme ou resistência dos filhos podem ser obstáculos significativos. "Esses são elementos que podem funcionar como uma barreira, impedindo que a pessoa se entregue efetivamente ao outro, ou sendo um gerador de conflitos", aponta.
A mudança na percepção sobre essas relações reflete uma evolução cultural e social, onde as mulheres, cada vez mais, rejeitam estigmas e assumem suas escolhas amorosas com liberdade e empoderamento.