Fechamento de bloco cirúrgico no Hospital Maria Amélia Lins sobrecarrega Hospital João XXIII

Manutenção no HMAL transfere 200 cirurgias mensais para o João XXIII, gerando filas e risco de colapso no atendimento

Por Plox

08/01/2025 07h20 - Atualizado há 4 meses

O bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), no bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte, foi fechado pelo governo de Minas Gerais sob a justificativa de manutenção nos equipamentos. Como consequência, todas as cirurgias realizadas no HMAL, cerca de 200 procedimentos mensais, foram transferidas para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, que já é a principal referência em politraumatismos, queimaduras e tragédias no Estado.

Pressão sobre o João XXIII e longas esperas
Com a transferência, o João XXIII passou a acumular também as cirurgias de baixa complexidade do HMAL, sobrecarregando a unidade que já atende mais de mil casos de urgência e emergência mensalmente. Servidores denunciam que pacientes esperam até duas semanas por cirurgia, enfrentando riscos de agravamento de saúde e aumento nas taxas de internação e infecção.

“Sobrecarregou. O correto é que o Amélia (HMAL) receba pacientes do João XXIII quando ele está no nível 3, lotado. Agora, como está tudo junto, todos os pacientes precisam ser encaixados na escala de um único bloco cirúrgico”, afirmou um profissional do HMAL, sob anonimato.

Impacto no atendimento a desastres
Especialistas alertam que a sobrecarga pode comprometer a capacidade de resposta do João XXIII em casos de tragédias, como o recente acidente na BR-116, que resultou em 41 mortes. “Com os pacientes sendo transferidos apenas para o João XXIII, o risco é de esgotamento da capacidade de assistência a pacientes mais graves e de resposta a grandes desastres”, disse Fausto Pereira dos Santos, pesquisador da Fiocruz Minas.

Resposta do governo e posicionamento da ALMG
A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) argumenta que o fechamento do bloco cirúrgico do HMAL não prejudicou os pacientes e que os procedimentos são realizados no João XXIII pela equipe do próprio Maria Amélia Lins. Entretanto, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) cobrou explicações formais em ofício encaminhado ao Secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, destacando a falta de planejamento.

“O que estamos vendo é má gestão e propaganda enganosa que estão colocando a saúde mineira em colapso. É nosso papel cobrar respostas”, criticou o deputado Leleco Pimentel, que, junto com o deputado Padre João, solicitou uma audiência pública para discutir o tema.

Dificuldades na equipe médica e denúncias de trabalhadores
Funcionários relataram desgaste psicológico e remanejamento de profissionais experientes para funções fora do bloco cirúrgico. “Psicologicamente, a equipe está abalada. Técnicos que atuam há 30 anos na rotina do Amélia Lins chegam ao pronto-socorro e são remanejados para outras funções. O bloco do João XXIII já possui equipe própria e não comporta as duas ao mesmo tempo”, desabafou um trabalhador.

Sem previsão de reabertura no HMAL
A Fhemig não detalhou o tipo de manutenção realizada no HMAL nem deu prazo para a retomada das atividades no bloco cirúrgico. Enquanto isso, o João XXIII continua operando em capacidade máxima, tentando absorver uma demanda que especialistas apontam ser insustentável a longo prazo.

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