Brasileiros deportados dos EUA relatam abusos na imigração
O número de deportações é crescente
Por Plox
08/07/2024 08h56 - Atualizado há 12 meses
No ano de 2024, em meio à corrida presidencial nos Estados Unidos, a imigração tem sido um tema central. Segundo a Polícia Federal, 516 brasileiros já foram deportados do país, todos desembarcando no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. De acordo com a BH Airport, seis voos com deportados chegaram ao aeroporto apenas neste ano.

Chegada em Confins
Às 19h02 da última sexta-feira de junho, mais um avião com brasileiros deportados dos Estados Unidos pousou em Confins. Cerca de 50 minutos depois, os passageiros, vestindo roupas brancas e carregando sacos com seus pertences, passaram pela área de desembarque. Enquanto alguns imigrantes apressavam-se pelo terminal, outros procuravam tomadas para recarregar os celulares e contatar suas famílias, informando que haviam chegado em segurança. Muitos planejavam comprar passagens para suas cidades de origem ainda naquela noite, enquanto outros não tinham nenhum dinheiro disponível.
Relatos de maus-tratos
"Te tratam como se fosse um cachorro amarrado na corrente"
Um mineiro de 24 anos, de Frei Lagonegro, no Vale do Rio Doce, compartilhou a difícil experiência de ser deportado duas vezes. Na segunda tentativa de imigração, em dezembro, ele e seus irmãos atravessaram a fronteira do México para o Texas escondidos em um vagão de trem, um esquema organizado por coiotes. "Passei muito sufoco no México. Tentaram me sequestrar, corrupção demais, tem que ficar pagando tudo, correndo risco de vida o tempo todo. Eu fiquei espremido no trem, em um espacinho que não dava 20 cm, durante oito horas", relatou.
Ao ser capturado na fronteira, ele passou seis meses em centros de detenção, onde enfrentou duras condições. "A comida é muito ruim, te alimentam na hora que querem. Eu saí daqui gordinho, estou voltando só o osso, perdi uns 10 kg. Alguns oficiais são tranquilos, têm coração, mas a maioria maltrata demais. Te tratam como se fosse um cachorro amarrado na corrente", contou o jovem, que agora quer recomeçar sua vida no Brasil.
"Passei de prisão em prisão"
Um sergipano de 34 anos, deportado após dez anos nos Estados Unidos, narrou sua trajetória difícil. Ele entrou no país com visto de turista, mas permaneceu de forma ilegal após o documento perder a validade. "Passei por um processo na Justiça, coloquei advogado, mas não consegui. Passei de prisão em prisão, fiquei quatro meses preso", disse ele, que trabalhou com construção civil em Kentucky. Durante sua detenção, ele não tinha contato regular com a família, causando grande sofrimento a seus entes queridos no Brasil.
Dificuldades na travessia marítima
Uma mulher de 26 anos, natural de Governador Valadares, também compartilhou sua experiência. Após sofrer violência doméstica, ela tentou entrar nos Estados Unidos de jet ski, uma travessia perigosa que quase lhe custou a vida. "Eu caí dentro do mar, estou viva pela glória de Deus. O mar estava muito violento, tive que nadar, passei muito frio", relatou. Após quatro dias de tentativas, ela finalmente chegou a San Diego, mas foi capturada pela imigração e passou três meses detida.
Processo de deportação e asilo
A advogada Paula Infante, especialista em direito internacional, explicou que muitos brasileiros se apresentam às autoridades de imigração dos EUA na esperança de solicitar asilo. No entanto, o processo pode levar anos e, na maioria dos casos, os pedidos são negados, resultando na deportação dos imigrantes.
Os relatos dos deportados destacam as dificuldades extremas e os abusos enfrentados por aqueles que tentam migrar para os Estados Unidos de forma ilegal. Além das condições adversas nos centros de detenção, a incerteza e o sofrimento psicológico são constantes na vida desses imigrantes. A realidade dura e as experiências traumáticas ressaltam os desafios da imigração irregular e a complexidade das políticas de asilo e deportação.