Fila de espera para fertilização gratuita em Minas Gerais é de cinco anos

Laboratório de Reprodução Humana enfrenta dificuldades de expansão devido à falta de recursos

Por Plox

08/07/2024 10h23 - Atualizado há 2 meses

Minas Gerais enfrenta uma situação crítica no atendimento de casais que buscam realizar fertilização in vitro (FIV) gratuitamente. O único hospital público do estado que oferece o procedimento, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), possui uma fila de espera de cinco anos, com cerca de 1.800 casais aguardando pelo tratamento.

Histórias de luta e esperança

Maria Izabel da Silva Martins, confeiteira de 40 anos, enfrentou sete anos de diagnóstico de infertilidade e seis tentativas fracassadas até conseguir realizar o sonho de ser mãe através da FIV oferecida pelo HC-UFMG. Hoje, ela é mãe de dois filhos e relembra a difícil jornada: "Era muita tensão, cada tratamento que dava errado era desgastante. Nos corredores, encontramos casais com a mesma história; quando alguém conseguia, já dava um ânimo”, conta.

Outra história de perseverança é a de Grazielle Duarte, de 33 anos, que esperou quase seis anos na fila para iniciar o processo de fertilização no fim do ano passado. "Desde que soube que a única forma de ser mãe era por fertilização in vitro, não tive alternativa. Particular eu não conseguiria, e ainda teria que pagar os exames e medicamentos”, desabafa. Grazielle, que passou por uma laqueadura em um relacionamento abusivo, agora depende da FIV para ser mãe novamente.

Desafios financeiros

O Sistema Único de Saúde (SUS) não cobre os custos das medicações necessárias para o tratamento de FIV, que giram em torno de R$ 5.000 por ciclo. Esse valor elevado leva muitos casais a desistirem do tratamento. A coordenadora do Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da UFMG, Inês Katerina Damasceno, destaca que muitos casais não conseguem prosseguir devido ao alto custo. “Em Minas, não conseguimos custear essa medicação, que tem custo alto, em torno de R$ 5.000, porque o SUS não cobre. Muitos casais não conseguem fazer o procedimento devido a esse valor e acabam desistindo”, revela.

Além disso, o hospital limita a três as tentativas de fertilização para cada paciente. Se as três tentativas falharem, não há outras possibilidades. Nas clínicas particulares, os custos da FIV podem chegar a R$ 20 mil por tentativa, tornando o processo inacessível para muitos.

Recursos insuficientes

O HC-UFMG destina R$ 4,2 milhões anuais para custear o laboratório, que realiza também inseminação intrauterina e outros procedimentos de tratamento de infertilidade. No entanto, a coordenadora do laboratório aponta a necessidade de maiores investimentos e políticas públicas que subsidiem esses tratamentos. Segundo ela, não há repasses específicos do governo federal há mais de dez anos, e a expansão dos procedimentos depende desse apoio financeiro.

Questionado, o Ministério da Saúde admite que não há repasses federais específicos para técnicas de fertilização in vitro em hospitais do SUS. Esses procedimentos são pagos com recursos do Teto de Média e Alta Complexidade (MAC), repassados às secretarias municipais e estaduais de Saúde, e oferecidos conforme a organização e critérios definidos pela gestão local.

Atendimento em Belo Horizonte

Na capital mineira, o ambulatório especializado em infertilidade está localizado no PAM Sagrada Família. Ele é responsável por determinar a causa da infertilidade e encaminhar os casais para a fila da FIV no Hospital das Clínicas. O gerente da Rede Ambulatorial Especializada da Prefeitura de Belo Horizonte, Mateus Figueiredo, explica que após o chamamento, os casais são informados sobre os riscos e possibilidades dos procedimentos e que devem arcar com os custos das medicações.

O que é a FIV?

A fertilização in vitro (FIV) é um tratamento que realiza a fecundação do óvulo com o espermatozoide em ambiente laboratorial, formando embriões que são transferidos para o útero. Após nove a 12 dias da transferência, é feito o teste de gravidez para determinar se a implantação foi bem-sucedida. A infertilidade é definida como a incapacidade de ter uma gravidez após 12 meses ou mais de relações sexuais regulares desprotegidas. Casais com dificuldades para engravidar devem procurar o centro de saúde mais próximo para iniciar o processo de investigação e tratamento.

 

A situação do Hospital das Clínicas da UFMG ilustra a urgência de investimentos em políticas públicas que garantam o acesso a tratamentos de fertilização assistida. Casais em todo o estado aguardam ansiosamente a chance de realizar o sonho de serem pais, mas enfrentam longas filas e desafios financeiros que tornam essa espera ainda mais angustiante.

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