Liderança na igualdade racial confundida com foragida da justiça por reconhecimento facial no Rio

Defensoria pública questiona uso da tecnologia

Por Plox

08/07/2024 11h08 - Atualizado há cerca de 2 meses

Durante um evento sobre igualdade racial no Centro do Rio, Daiane de Souza Mello, servidora pública e ativa defensora da igualdade racial, foi erroneamente identificada como uma foragida da justiça pelo sistema de reconhecimento facial da Polícia Militar. O caso, ocorrido em abril, gerou indignação e preocupação sobre a eficácia e segurança dessa tecnologia.

Erro de reconhecimento e abordagem policial

Há 10 anos trabalhando com vítimas de preconceito, Daiane sofreu na pele o constrangimento ao ser abordada por policiais militares que a identificaram como uma procurada. "Me mostraram a foto da pessoa, é completamente diferente de mim. Eu me senti muito desamparada", relatou Daiane. Após apresentar seu documento e comprovar o equívoco, a abordagem foi encerrada, mas o medo permanece: "Se essa câmera me reconheceu naquele momento, ela pode me reconhecer em qualquer lugar."

Uso da tecnologia e falhas recorrentes

O sistema de reconhecimento facial utilizado foi adquirido via licitação e testado nos Estados Unidos. No entanto, a tecnologia vem sendo criticada por sua ineficácia e possível viés racial. "É muito complicado você colocar nas mãos de uma tecnologia produzida, não pensada para nós", destacou Daiane. Em janeiro, dois outros indivíduos foram presos injustamente devido a dados desatualizados no banco de dados.

Acompanhamento da defensoria pública

A Defensoria Pública do Estado está acompanhando o caso e solicitou informações à Secretaria de Segurança Pública sobre o uso da tecnologia. "Há registros de racismo perpetrados pela utilização da tecnologia de IA e algoritmos que reproduzem a lógica racista da sociedade brasileira", afirmou a defensora pública Anne Caroline Nascimento.

Estatísticas de prisões e questionamentos

De dezembro do ano passado a junho deste ano, 200 pessoas foram presas com base no reconhecimento facial por câmeras no Rio. Contudo, essa ferramenta continua sendo polêmica, com especialistas defendendo uma regulamentação mais rigorosa para evitar erros e abusos. "Qual protocolo está sendo utilizado, como os agentes de segurança pública estão sendo treinados e qual a base de dados que está sendo utilizada?", questiona Anne.

O que dizem as autoridades

A Secretaria Estadual de Governo afirmou que a abordagem a Daiane seguiu os protocolos e que os resultados do uso da ferramenta estão disponíveis para consulta. A Polícia Civil registrou o caso na Delegacia de Combate aos Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, que está investigando a situação.

Daiane de Souza Mello é um exemplo vivo das falhas e possíveis injustiças causadas pelo uso indiscriminado de tecnologias sem a devida regulamentação e sensibilidade racial. O caso dela evidencia a necessidade urgente de revisões e melhorias nos sistemas de reconhecimento facial para garantir a segurança e a justiça para todos.

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