Itamaraty convoca representante dos EUA após novas ameaças contra ministros do STF

Publicações da embaixada americana em apoio a Bolsonaro e contra Alexandre de Moraes geram indignação e intensificam tensão diplomática

Por Plox

08/08/2025 14h10 - Atualizado há 4 dias

Em meio a uma escalada de tensão entre Brasil e Estados Unidos, o Itamaraty decidiu convocar Gabriel Escobar, encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em Brasília, para prestar esclarecimentos sobre recentes publicações feitas pelo governo americano que foram consideradas ameaçadoras e ofensivas ao Supremo Tribunal Federal (STF).


Imagem Foto: Embaixada dos EUA 


A iniciativa foi tomada após uma postagem nas redes sociais da embaixada norte-americana, na quinta-feira (7), afirmar que o ministro Alexandre de Moraes é “o principal arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro”. A mensagem também alertava que os aliados de Moraes no Judiciário e em outras instâncias poderiam enfrentar sanções semelhantes, insinuando uma possível retaliação do governo Donald Trump.


Na manhã desta sexta-feira (8), Escobar foi recebido no Ministério das Relações Exteriores pelo embaixador Flavio Goldman, atual responsável pela secretaria de Europa e América do Norte do Itamaraty. De acordo com fontes diplomáticas, Goldman expressou forte indignação diante do teor da publicação americana, acusando os EUA de ingerência nos assuntos internos brasileiros e de desrespeito à soberania nacional.



\"Trump atua com ingerência em assuntos internos, faz ameaças inaceitáveis e ataca a soberania brasileira em vez de negociar tarifas\",

teria dito Goldman, conforme relatos de integrantes do Itamaraty.

O gesto diplomático é uma forma tradicional de registrar protesto formal entre nações, e esta não é a primeira vez que Escobar é chamado ao ministério desde o início do novo governo Trump. As convocações anteriores também envolveram críticas ao STF e apoio explícito a Jair Bolsonaro, incluindo publicações que classificavam o ex-presidente brasileiro e sua família como aliados dos EUA e vítimas de perseguição política.



A atual publicação com ameaças ocorreu no mesmo dia em que Escobar participou de uma reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também ocupa a pasta de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O encontro teve como pauta as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, que têm gerado desconforto crescente entre os dois países.


Durante a conversa, Alckmin apresentou dados mostrando que a tarifa média aplicada pelo Brasil a produtos americanos é de apenas 2,7% e que, entre os dez produtos mais exportados pelos EUA ao Brasil, oito têm tarifa zerada. Ele defendeu que as divergências comerciais devem ser resolvidas por meio do diálogo diplomático e não por meio de retaliações políticas.



Desde janeiro de 2025, a embaixada dos Estados Unidos está sem um embaixador oficial no Brasil, após a saída de Elizabeth Bagley com o fim do governo Joe Biden. Desde então, Gabriel Escobar atua interinamente como chefe da missão diplomática. Apesar das diversas convocações, ele ainda não teve encontros com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, sendo sempre recebido por secretários do Itamaraty.


A reação do governo brasileiro também tem sido reforçada por declarações do presidente Lula, que já afirmou que o STF “não está dando a mínima para o que fala o Trump” e criticou a aproximação de opositores brasileiros com o ex-presidente americano, dizendo que tais alianças representam uma traição ao povo do Brasil.



A crise se aprofunda em um momento de forte polarização política interna e com o governo Lula pressionado por questões econômicas e diplomáticas. Enquanto isso, o Itamaraty se esforça para manter a institucionalidade nas relações bilaterais, sem abrir mão da defesa dos princípios democráticos e da soberania nacional.


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