Café produzido a partir de fezes de jacu é vendido a R$ 1.100 o quilo
Pássaro, antes considerado praga, ajuda na produção de um dos cafés mais exclusivos do mundo.
Por Plox
08/09/2023 07h24 - Atualizado há quase 2 anos
Antigamente, o jacu, pássaro do sudeste brasileiro, era tido como uma ameaça nas plantações de café. No entanto, sua capacidade única de escolher e consumir os frutos mais maduros do café transformou-o em uma figura central na produção de um café extremamente caro e único. Agnael Costa, um coletor de 23 anos, menciona à AFP que o pássaro "geralmente escolhe as melhores frutas, as mais maduras".

Na fazenda Camocim, em Domingos Martins, Espírito Santo, o proprietário Henrique Sloper adotou a agricultura biodinâmica, evitando produtos químicos. A combinação do ambiente agroflorestal e da participação do jacu na produção é responsável pelo surgimento deste café distinto, vendido por R$ 1.118 o quilo no Brasil.
Uma inspiração internacional e processo de produção
Foi após conhecer o café "Kopi Luwak", oriundo dos excrementos de civeta na Indonésia, que Henrique Sloper percebeu o potencial do jacu. Diferente da produção asiática, que enfrenta críticas por manter civetas em cativeiro, o processo brasileiro é completamente natural. Rogério Lemke, supervisor de produção, reforça que os jacus "estão dentro do habitat natural" e que não são usados químicos ou produtos transgênicos na plantação.
O café obtido a partir das fezes do jacu representa uma pequena porcentagem da produção da fazenda, menos de 2%. Após a coleta, as fezes passam por um processo de secagem, classificação e armazenamento em câmaras frias.
Apreciação e sustentabilidade
O analista de café, Ensei Neto, destaca que a principal contribuição do jacu é a seleção meticulosa de grãos maduros, que dá ao café "notas doces, com boa acidez". O processo de digestão do jacu é extremamente rápido, diferentemente de animais como civetas e elefantes. A singularidade do café e sua narrativa chamam a atenção de entusiastas, como a turista Poliana Cristiana Prego, que viajou à fazenda para experimentar a bebida.
Henrique Sloper vê uma confluência entre a demanda por produtos exóticos e a valorização da sustentabilidade. Ele acredita no potencial do Brasil no mercado de café, enfatizando a necessidade de investir em branding e marketing.