Comportamento humano: da tentação à infidelidade
A complexidade do desejo de traição e suas motivações variadas
Por Plox
08/09/2023 07h41 - Atualizado há cerca de 1 ano
A dentista Alice*, aos 24 anos, relata suas experiências em um relacionamento abusivo e como a tentação de trair o parceiro surgiu como uma forma de escapismo. Ela descreve momentos intensos: "Eu sentia vontade de traí-lo todas as vezes que ele me maltratava em um nível mais elevado, principalmente fisicamente". Ao descrever um episódio em que seu parceiro ameaçou violência, Alice admitiu: "Decidi traí-lo quando ele deu um soco na parede e disse que aquilo seria em mim." Para ela, a traição tornou-se uma forma de reafirmação de si mesma, onde sentia-se "a verdadeira Alice".
No entanto, Alice expressa remorso não pela traição, mas por não ter terminado o relacionamento mais cedo. "Era uma relação que não me cabia mais. Me senti covarde por não ter saído mais cedo dela”, revela.
Desejo não está necessariamente ligado à qualidade da relação
A psicóloga Leni de Oliveira sugere que o desejo de trair pode surgir por diversas razões, seja cultural ou a forma como a pessoa cria laços afetivos. "O desejo é a grande mola propulsora, mas as circunstâncias e os conflitos vão definir se esse desejo será satisfeito ou não", explica Oliveira.
Um estudo recente no "Archives of Sexual Behavior", focado em usuários do site Ashley Madison, revelou que a infidelidade não estava diretamente relacionada ao sucesso do relacionamento. Curiosamente, o estudo mostra que "os participantes relataram fortes sentimentos de amor pelos seus parceiros/cônjuges primários". No entanto, muitos também "obtiveram considerável prazer físico e emocional com seus casos e expressaram pouco arrependimento", segundo o artigo.
Do desejo à ação
O caminho entre sentir o desejo de trair e concretizar esse desejo varia muito, e Leni de Oliveira destaca que cada indivíduo enfrentará esse desejo de maneira distinta. "As pessoas vão lidar de maneiras diferentes com o desejo", diz. A psicóloga ainda questiona se deveríamos evitar tal sentimento, ponderando que "Nossos desejos falam sobre nós, nossos conflitos, contradições. Compreendê-los é muito mais potente do que evitar".
Por fim, enquanto a comunicação com o parceiro pode ser uma solução para alguns, não existe uma resposta definitiva sobre como abordar a tentação. Oliveira observa: "Por ser um fenômeno complexo é difícil determinar se é melhor dizer ou não. Depende do casal. Dizer, pode trazer conflitos que nem sempre as pessoas estão dispostas a encarar".