Rins humanizados cultivados em embriões de porcos na China
Pesquisadores vislumbram solução para a escassez de órgãos para transplante, mas enfrentam dilemas éticos.
Por Plox
08/09/2023 08h47 - Atualizado há quase 2 anos
Pesquisadores do Instituto de Biomedicina e Saúde de Guangzhou, na China, atingiram um marco científico ao cultivar um órgão humanizado dentro de um animal. Pela primeira vez, órgãos sólidos humanizados - especificamente rins - foram cultivados em embriões quiméricos de porcos, uma mistura de células humanas e suínas. Esse feito distingue-se de estudos anteriores que geraram apenas tecidos humanos, como sangue ou músculo esquelético, usando metodologias semelhantes.
Em um artigo recente publicado na revista Cell Stem Cell, a equipe revelou que os rins foram escolhidos devido ao seu desenvolvimento precoce no corpo humano e sua alta demanda em transplantes. Liangxue Lai, autor sênior do estudo, declarou, "Nossa abordagem melhora a integração das células humanas nos tecidos receptores e nos permite cultivar órgãos humanos em porcos".

Processo Inovador
A pesquisa envolveu múltiplas fases. Para começar, os cientistas estabeleceram um ambiente dentro do embrião de porco, garantindo que as células humanas não competissem com as do porco. Utilizando a tecnologia de edição genética CRISPR, eles modificaram o embrião suíno, impedindo o desenvolvimento de rins suínos. Células estaminais pluripotentes humanas foram transformadas em estruturas similares às primeiras células embrionárias humanas, implantadas em embriões de porcos, resultando em quimeras. Após implantar 1.820 destes embriões quiméricos em 13 porcas, a análise revelou rins compostos por 50% a 60% de células humanas.
Desafios e Implicações Éticas
Apesar da promessa de atender à crescente demanda por transplantes, a pesquisa não está isenta de desafios. Os rins ainda possuem células vasculares derivadas de porcos, o que pode causar rejeição em humanos. Além disso, questões éticas emergem. Gustavo Guilherme Arimatea, especialista em bioética, expressa preocupação sobre o potencial de surgimento de tecidos neurológicos ou reprodutivos humanos em quimeras.
A equipe chinesa, no entanto, minimiza parte dessas preocupações, destacando que encontraram "poucas células neurais humanas no cérebro e nenhuma célula humana na crista genital" nos embriões quiméricos.
Opinião de Especialistas
Enquanto a comunidade científica celebra este avanço, reconhece-se que a prática está em seus estágios iniciais. Elber Rocha, coordenador do programa de Transplantes do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, afirma que a escassez de órgãos para transplante é uma preocupação global e vê potencial nos órgãos criados por cientistas para aliviar essa questão. No entanto, o uso de órgãos humanizados ainda é experimental.
Miguel Angel Esteban, coautor do estudo, vê o método atual como uma janela para entender melhor o desenvolvimento humano. Ele destaca a capacidade de rastrear e manipular as células humanas introduzidas para estudar doenças e a formação de linhagens celulares.