Exportadores mineiros buscam saídas para reduzir perdas com tarifaço dos EUA
Café, carnes e couro estão entre os setores mais atingidos pela sobretaxa de 50%, enquanto empresas correm para novos mercados e medidas fiscais
Por Plox
08/09/2025 08h33 - Atualizado há 3 dias
Um mês após a imposição da sobretaxa de 50% pelos Estados Unidos, as exportações brasileiras já demonstram queda significativa, e Minas Gerais aparece entre os estados mais afetados. Dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento, Comércio, Indústria e Serviços apontam que, em agosto, as vendas para os EUA caíram 18,5% em relação ao mesmo período de 2024.

No caso do café, símbolo da economia mineira, o recuo foi ainda mais expressivo: as exportações para os EUA despencaram de mais de 560 mil sacas em agosto de 2024 para cerca de 300 mil neste ano, uma redução de 50%. Segundo o presidente do Cecafé, Marcos Matos, a sobretaxa provocou suspensão de contratos e congelou novas negociações.
\"Após 6 de agosto, com a entrada em vigência do tarifaço, as empresas americanas entraram em compasso de espera, pedindo adiamento ou suspensão dos embarques\"
, relatou.
Para reduzir os danos, o setor buscou apoio em mudanças tributárias. O Cecafé articulou alterações no PIS/Cofins, propondo aumento de crédito presumido em 50% para cafés verdes até dezembro de 2026, como forma de amenizar os prejuízos antes da entrada em vigor da Reforma Tributária. Paralelamente, lideranças pressionam para que o café seja retirado da lista de produtos sobretaxados e ampliam esforços para abrir novos mercados, como Índia e China.
Os frigoríficos mineiros também sentiram forte impacto. Sílvio Silveira, presidente da Afrig, afirmou que a sobretaxa inviabilizou a exportação de couro bovino para os EUA, mercado que mais comprava o produto. O couro, que já representou 12% do faturamento dos frigoríficos, hoje não cobre custos de produção. O setor calçadista, que depende dessa matéria-prima, também sofre reflexos. Para compensar, empresas vêm direcionando parte da produção para China, Chile, Egito e países da União Europeia.
A Federação da Agricultura de Minas Gerais (FAEMG) destacou que carnes, frutas, açúcar, etanol, mel e peixes também foram atingidos e defendeu que a diplomacia seja prioridade na solução. A entidade pede medidas como compras governamentais, linhas de crédito, apoio logístico e maior diversificação da pauta exportadora para enfrentar a crise.
Em paralelo, uma comitiva da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com participação de empresários mineiros, foi a Washington negociar diretamente com autoridades e empresas americanas. Apesar de apresentar propostas em áreas como data centers, minerais críticos e etanol, os representantes ouviram que a sobretaxa tem forte componente político, ligado às relações entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o governo americano, além de decisões do STF sobre tecnologia.
\"O grande problema da negociação é que o governo americano está envolvendo questões políticas que o Brasil não pode nem negociar\"
, afirmou o especialista mineiro Welber Barral.
Segundo estudo da Fiemg, caso as sobretaxas durem entre um e dois anos, Minas Gerais pode acumular prejuízos de R$ 4,7 bilhões, com possibilidade de chegar a R$ 15,8 bilhões a longo prazo. A entidade alerta para riscos de perda de mais de 30 mil empregos em curto prazo, número que pode ultrapassar 170 mil em horizonte mais longo. Setores que vão de couro, papel, madeira, vidro, cerâmica e plástico a veículos pesados, máquinas, equipamentos médicos, eletrônicos e químicos estão na lista dos prejudicados.
Apesar do cenário adverso, lideranças empresariais afirmam que os Estados Unidos também podem sentir os efeitos, especialmente em relação à inflação de alimentos e insumos. Barral lembra que o café e a carne brasileira, considerados de alto padrão, continuarão sendo estratégicos para o mercado americano. A avaliação é de que, embora as perdas sejam grandes para Minas, o tarifaço também trará custos para os consumidores nos EUA.