Mutirão de catarata deixa 12 idosos cegos em SP, e especialistas confirmam danos irreversíveis

Pacientes passaram por cirurgias no AME de Taquaritinga e, após complicações, receberam diagnóstico definitivo de perda de visão

Por Plox

09/02/2025 09h46 - Atualizado há cerca de 1 mês

Idosos que participaram de um mutirão de cirurgias de catarata no Ambulatório de Especialidades Médicas (AME) de Taquaritinga, no interior de São Paulo, receberam um diagnóstico devastador: a perda de visão pode ser irreversível. Após meses de incerteza e tentativas de recuperação, especialistas concluíram que, para alguns pacientes, não há mais possibilidades de enxergar novamente.

Os procedimentos ocorreram em outubro de 2024, mas, até o momento, as causas das complicações não foram totalmente esclarecidas. No total, 12 idosos perderam a visão total ou parcialmente.

 

Foto: Valdinei Malaguti/EPTV

Relatos de sofrimento e frustração

O pintor Carlos Augusto Rinaldi, de 66 anos, foi um dos afetados. Ele e outros pacientes foram encaminhados para acompanhamento em dois hospitais: um grupo para Araraquara e outro para o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Em ambas as unidades, os médicos confirmaram a gravidade da situação.

"Já se passaram quase quatro meses. Em Ribeirão, onde há outros casos semelhantes, foi constatado que o quadro é irreversível, e em Araraquara a situação é a mesma. Tenho uma consulta marcada para segunda-feira e verei a avaliação. Estão tentando tirar a córnea porque a retina não tem mais jeito, para ficar uma qualidade de vida melhor em um olho, tirar esse branco. Agora estamos esperando apoio", disse Rinaldi ao g1.

Outro caso grave é o da salgadeira Maria de Fátima Garcia Chiari, moradora de Matão (SP). Após a cirurgia, ela saiu do hospital sentindo dores intensas e recebeu apenas analgésicos. Ao longo dos dias, sua visão começou a se deteriorar rapidamente.

"Com o passar dos dias, eu comecei a ver uns vultos e ficou nisso. Até o dia que eu perdi a visão total. Do dia 21 de outubro [data da cirurgia] e no dia 31 de dezembro, eu comecei a perder a visão. No dia 1, ficou tudo cinza e, quando foi no dia 2 [de janeiro], estava tudo preto", relatou.

Após ser atendida por uma retinóloga, recebeu a confirmação de que não havia mais possibilidade de reversão do quadro. Ela chegou a correr risco de perder o globo ocular, mas foi submetida a um transplante de córnea em Araraquara, o que impediu a perda total. "Minha córnea já estava tão comprometida que parecia um papel molhado", disse.

Falhas na estrutura e investigações em andamento

A Secretaria de Saúde de Taquaritinga informou, em nota, que os pacientes tiveram complicações pós-cirúrgicas oftalmológicas. Durante uma vistoria técnica realizada por membros das vigilâncias sanitárias estadual e municipal, foram encontradas irregularidades na Sala de Materiais para Esterilização (SME) do AME. Como medida emergencial, o setor foi interditado.

Além disso, a prefeitura do município afirmou que todas as vítimas foram incluídas na fila de transplante de córnea.

A secretária executiva da Saúde do Estado de São Paulo, Priscilla Perdicaris, classificou o caso como um “fato isolado gravíssimo” e garantiu que as autoridades estão conduzindo uma investigação para esclarecer as causas e adotar as medidas necessárias.

Enquanto isso, os pacientes e suas famílias aguardam respostas e suporte diante das consequências irreversíveis do mutirão.

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