Nomeação de papa americano reacende teorias sobre Apocalipse 13

Escolha de Leão XIV inspira interpretações sobre 'fim dos tempos', mas especialista esclarece sentido original da passagem bíblica

Por Plox

09/05/2025 09h22 - Atualizado há 1 dia

A nomeação do cardeal americano Robert Francis Prevost como novo papa, anunciada nesta quinta-feira (8), provocou uma enxurrada de reações nas redes sociais, onde internautas passaram a relacionar o acontecimento ao capítulo 13 do livro bíblico do Apocalipse.


Imagem Foto: Reprodução


O trecho, conhecido por fazer referência à figura da besta e ao número 666, voltou a ganhar destaque com a escolha do novo pontífice, que adotou o nome de Leão XIV — o primeiro a usá-lo desde Leão XIII, uma coincidência que alimentou ainda mais os comentários conspiracionistas. Usuários do X, antigo Twitter, publicaram frases como:
'Profecia de Apocalipse 13 se cumprindo'

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O capítulo mencionado descreve duas entidades simbólicas: uma que emerge do mar, com aparência feroz e poder político, e outra que surge da terra, com características religiosas, tida como o falso profeta. Essa dupla é vista, por parte de interpretações ao longo da história, como uma representação do anticristo.


📜 “E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a boca de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio”, descreve o texto. Também é neste trecho que aparece o enigmático número: “Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é 666”.



Para muitos, essa simbologia ganha força diante do cenário atual. Kenner Terra, pastor e doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, atualmente professor na Faculdade Instituto Rio de Janeiro (Fiurj), esclarece que essas figuras representam críticas políticas e religiosas do contexto do século 1.


“João, autor do Apocalipse, usou alegorias para criticar o imperador romano Nero Cesar, atribuindo a ele as características de um poder opressor e destrutivo”, destaca Terra. Segundo o especialista, a besta que sai do mar representa um líder político dominante, enquanto a outra besta, ligada ao falso profeta, simboliza um poder religioso que o apoia.



Kenner acrescenta que desde a Reforma Protestante alguns grupos passaram a enxergar o papa como o próprio anticristo ou o falso profeta mencionado na profecia. Tais interpretações foram popularizadas em obras como o livro e filme “Deixados Para Trás”, que retratam o fim do mundo com uma forte influência das escrituras apocalípticas.


O fato de o novo papa adotar o nome “Leão XIV”, e suceder simbolicamente Leão XIII — o mesmo número do capítulo do Apocalipse — deu margem para leituras que apontam conexão direta com o versículo que menciona uma “boca de leão”.


“Esse tipo de leitura é comum em teorias conspiratórias, que ligam o texto bíblico a eventos modernos e desastres”, afirma Kenner. Ele explica que o Apocalipse, conhecido como “livro da revelação”, já foi usado ao longo da história para tentar justificar episódios como a peste negra, o acidente de Chernobyl e até o aquecimento global.


O especialista destaca, porém, que essas interpretações são descontextualizadas. “João recorreu às mesmas imagens do profeta Daniel para construir uma crítica potente e simbólica contra o império romano, e não para prever eventos futuros específicos como a nomeação de papas”, conclui.



Assim, embora a coincidência do nome e número tenham inflamado debates e postagens nas redes, estudiosos reforçam que a passagem de Apocalipse 13 é, antes de tudo, uma denúncia histórica e simbólica de uma época marcada por perseguições e dominação.


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