Pesquisadoras alertam para erros em diagnósticos de TDAH em crianças

Alta incidência de falsos diagnósticos preocupa especialistas

Por Plox

09/06/2024 11h10 - Atualizado há 8 meses

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem ganhado destaque nas discussões sobre saúde mental no Brasil. A Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA) estima que cerca de 2 milhões de brasileiros convivem com o transtorno. No entanto, especialistas da Universidade de São Paulo (USP) alertam para a crescente banalização da condição e o aumento de diagnósticos incorretos.

Reprodução: Freepik

Estudo revela discrepâncias em diagnósticos médicos

Anaísa Leal Barbosa Abrahão, doutora em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, conduziu uma pesquisa em 2022 que avaliou 43 crianças com diagnóstico médico de TDAH. Destas, apenas três preenchiam os critérios do transtorno ao serem submetidas a escalas específicas. “Realizamos uma pesquisa na USP em 2022 e, ao avaliarmos 43 crianças com diagnóstico médico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, apenas três preencheram os critérios para TDAH ao serem submetidas a escalas específicas”, relatou a pesquisadora.

A importância de diferenciar comportamentos infantis normais dos sintomas do TDAH

A neurologista Alicia Coraspe, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP, destaca a dificuldade em distinguir entre comportamentos normais da infância e sintomas do TDAH. Ela enfatiza a necessidade de uma compreensão aprofundada das variações dos sintomas ao longo das diferentes idades para um diagnóstico mais preciso e menos estigmatizado. “Compreender os sintomas do TDAH e suas variações ao longo das diferentes faixas etárias é fundamental para um diagnóstico preciso e menos estigmatizado”, enfatiza.

Estilo de vida moderno e seus impactos nos diagnósticos

O estilo de vida atual, marcado por uma rotina agitada e o uso excessivo de telas, é apontado como um fator que contribui para o aumento de diagnósticos incorretos de TDAH. A exposição a conteúdos digitais curtos e a falta de tempo dos pais para interagir com os filhos têm levado mais famílias a buscar ajuda médica, questionando a possibilidade do transtorno. “As mudanças no estilo de vida, como o aumento do uso de telas e conteúdos digitais mais curtos, juntamente com a rotina agitada dos pais, que têm menos tempo para os filhos, têm levado mais famílias a consultórios médicos questionando a possibilidade desse diagnóstico”, avalia Coraspe.

Desafios no diagnóstico de adultos

Na fase adulta, o diagnóstico de TDAH enfrenta o desafio adicional de diferenciar seus sintomas dos de outras condições comuns nessa faixa etária, como ansiedade, depressão, bipolaridade, disfunções da tireoide e deficiências de vitaminas. “Já a dificuldade do diagnóstico na fase adulta está em obter relatos do comportamento do paciente na infância e na necessidade de distinguir o TDAH de outros transtornos como ansiedade, depressão, bipolaridade, disfunções da tireoide e deficiências de vitaminas, que são mais prevalentes nessa faixa etária”, comenta Coraspe.

Entendendo o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por desatenção, desorganização, hiperatividade e impulsividade. Esses sintomas geralmente aparecem na infância e podem persistir na vida adulta. A pesquisadora Anaísa explica que não há consenso sobre a causa do transtorno, mas fatores ambientais e genéticos podem estar envolvidos. “Alguns estudos sugerem que fatores tanto ambientais quanto genéticos podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno”, diz.

Tipos de TDAH

O TDAH pode ser classificado em três tipos: hiperativo/impulsivo, desatento e misto/combinado. O tipo hiperativo/impulsivo se caracteriza por inquietude e interrupções constantes na fala. O tipo desatento é marcado por erros por falta de atenção e dificuldades na organização de tarefas. O tipo misto combina características dos dois outros tipos. Na infância, os sintomas costumam aparecer de forma combinada, enquanto na fase adulta predomina o tipo desatento.

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