Jiu-Jitsu transforma vida de jovens autistas em academia do Vale do Aço
Arte marcial contribui com coordenação, autoconfiança e inclusão social de alunos com autismo
Por Plox
09/06/2025 11h31 - Atualizado há 3 dias
Dentro de uma academia no Vale do Aço, o som dos kimonos se arrastando pelo tatame se mistura a sorrisos e palavras de incentivo. Ali, o Jiu-Jitsu tem se mostrado mais que uma prática esportiva — tem sido instrumento de transformação social para crianças e jovens com autismo.

A faixa preta Marciana Domingues, carinhosamente conhecida como Tia Marcinha, explica que o trabalho com os alunos autistas é conduzido com dedicação e cuidado, sem perder a essência da arte marcial. Segundo ela, a modalidade contribui para o desenvolvimento da coordenação motora, da autoconfiança e, acima de tudo, da integração social.

“A gente inclui eles na sociedade, e trabalhamos com eles as técnicas da mesma forma que com qualquer outra criança”, afirma a professora.
Vídeo: Andressa Estevão / Plox
A convivência dentro do tatame é um exercício diário de respeito e superação. Técnicas como rolamentos e golpes são ensinadas, mas com uma abordagem adaptada às particularidades de cada aluno. Marcinha reforça que sempre orienta as crianças a usarem o Jiu-Jitsu para se defender, e não como agressão. “Eles aprendem que isso pode ser uma arma, por isso ensinamos que é para defesa”, completa.
O jovem Igor Vale, hoje com 20 anos e faixa marrom, é um exemplo vivo do impacto do esporte. Diagnosticado com autismo desde pequeno, Igor relembra o quanto era recluso e tinha dificuldades em iniciar ou manter conversas.

“Eu era uma criança bem fechada. Hoje, aprendi até a abraçar pessoas” , conta.
Vídeo: Andressa Estevão / Plox
Para ele, a presença dos professores foi fundamental. “O Alison foi uma figura paterna para mim, e a Marcinha, uma mãe. Sempre estiveram comigo nos campeonatos e no dia a dia.” Campeão de diversas competições, Igor encara cada vitória como uma conquista coletiva, e aprendeu a lidar até mesmo com as derrotas. “Perder era algo muito difícil para mim, mas eles me ensinaram que na derrota também há aprendizado.”
Atualmente, Igor se prepara com dedicação para alcançar seu maior sonho: a faixa preta. “Treino todos os dias, porque eu sei que vou conseguir”, afirma com convicção.
Já o professor Walison Vitor da Silva, também faixa preta, observa como o tatame tem sido espaço de acolhimento e aprendizado. Ele explica que, mesmo sendo um esporte individual, o Jiu-Jitsu permite atividades em grupo, o que facilita a inclusão. “Aqui dentro, não há diferenciação. Eles aprendem as mesmas técnicas, adaptadas às suas condições, e são acolhidos pelos outros alunos”, diz.

Segundo Walison, além das técnicas marciais, os alunos aprendem hierarquia, respeito e autocontrole. “Gosto de dizer que eles viram super-heróis. Eles percebem que são diferentes e que precisam controlar seus poderes.”
Vídeo: Andressa Estevão / Plox
A prova disso vem da boca do pequeno Antônio Lopes, de apenas 7 anos. Faixa branca, ele conta com entusiasmo como sua coragem cresceu desde que começou a treinar. “Eu tenho mais coragem. Um dia até deixei o colega cair e fui pra cima, enforquei ele, e ele nem deu os três tapas!”, diz, com espontaneidade infantil. Mais do que técnicas, Antônio aprendeu a fazer amigos e até a comer alimentos novos, como cenoura, uva e banana.

“Eu posso vencer minhas limitações e ficar mais super-herói, mais forte, mais corajoso”, resume o garoto, em uma frase que ecoa como símbolo de tudo que o Jiu-Jitsu tem representado na vida dessas crianças.
Vídeo: Andressa Estevão / Plox
Com disciplina, apoio e inclusão, a academia do Vale do Aço tem mostrado que, no tatame, todos têm espaço para crescer — como atletas e como cidadãos.