Primeiro encontro entre Bolsonaro e Cid após delação acontece em audiência no STF
Ex-ajudante de ordens presta depoimento sobre suposto plano de golpe de Estado; Bolsonaro observa e o cumprimenta com aperto de mãos
Por Plox
09/06/2025 17h04 - Atualizado há cerca de 13 horas
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o tenente-coronel Mauro Cid se reencontraram nesta segunda-feira (9) no plenário da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, após mais de dois anos sem contato direto. Cid é o principal delator do inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado, supostamente liderada por Bolsonaro em 2022.

O reencontro aconteceu durante uma audiência marcada para o interrogatório de Cid, o primeiro dos réus a prestar depoimento na série de oitivas que se estende até a próxima sexta-feira (13). Jair Bolsonaro, posicionado a cerca de cinco metros de seu ex-ajudante de ordens, foi até ele, sorriu e o cumprimentou com um aperto de mãos, mesmo com a proibição judicial de qualquer conversa entre os acusados. O cumprimento, porém, está autorizado.
Na sessão presidida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, também estavam presentes o ministro Luiz Fux e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. Mauro Cid, acompanhado do advogado Cezar Bittencourt, iniciou sua fala afirmando: “Eu presenciei grande parte dos fatos, mas não participei deles.”
Durante o julgamento, Bolsonaro observava Cid atentamente, alternando entre anotações em um papel, uso de óculos e expressões concentradas, ora com os braços cruzados, ora com a mão sobre a boca. O ex-presidente já estava na sala de audiência quando Cid entrou no plenário e passou direto por ele, sem contato até o momento do cumprimento.
Além de Bolsonaro e Cid, também são réus no processo nomes como o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin; o general Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; o general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI; Paulo Sérgio de Oliveira, ex-ministro da Defesa; e o general da reserva Braga Netto, que participará por videoconferência, pois segue preso em unidade militar desde dezembro de 2024.
Mauro Cid teve papel de destaque na Presidência entre 2019 e 2022 como assessor direto e “braço direito” de Bolsonaro. Ele chegou a tratar de assuntos pessoais do ex-presidente. Foi preso inicialmente em maio de 2023 por supostas fraudes em cartões de vacinação. Solto após firmar delação premiada, voltou à prisão em março de 2024, após vazamento de áudios sobre o acordo. Desde maio do mesmo ano, está em liberdade provisória, com medidas cautelares.
Sua colaboração tem sido essencial para investigações da Polícia Federal, inclusive com a revelação de um vídeo em que Bolsonaro, em julho de 2022, pedia ações antes das eleições. Em março de 2025, Mauro Cid foi formalmente denunciado junto com Bolsonaro, respondendo por tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa e dano ao patrimônio público — crimes que podem somar até 43 anos de prisão.
O caso segue em andamento no STF, com os depoimentos dos demais réus programados ao longo da semana.