Efeito da pandemia: trabalhadores pobres, jovens e de baixa qualificação deixam o mercado
A influência do Bolsa Família na saída do mercado de trabalho
Por Plox
09/07/2023 11h47 - Atualizado há quase 2 anos
O Brasil viu uma queda significativa no número de desempregados no segundo trimestre de 2023, baixando para 10,1 milhões. Porém, por trás dessa estatística aparentemente positiva, esconde-se uma preocupante realidade. Os trabalhadores que abandonaram a busca ativa de emprego são majoritariamente os de menor renda, menos escolarizados e mais jovens, uma tendência que se acentuou desde a eclosão da pandemia de Covid-19.

A cuidadora de idosos Janice Souza, 32, de Vitória da Conquista (BA), exemplifica bem essa situação. Ela foi dispensada de seu emprego de uma década durante a pandemia e encontrou-se subitamente sem a renda na qual seu filho dependia. "A patroa não queria ninguém de fora, para não levar o vírus para dentro de casa. Quando a pandemia passou, ela disse que não precisava mais de mim", conta Janice.
Dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), analisados por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), traçam um panorama sombrio. Entre o final de 2019 e o começo de 2023, as perdas de participação no mercado de trabalho foram mais acentuadas entre os trabalhadores com renda do trabalho por pessoa de até R$ 325 e os com baixo nível de escolaridade.
A influência do Bolsa Família na saída do mercado de trabalho
Com a reabertura da economia após o período mais crítico da pandemia e o avanço da vacinação, a taxa de participação no mercado de trabalho apresentou uma ligeira melhora. No entanto, segundo o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, que liderou o estudo da FGV Ibre, o reequilíbrio ainda favorece os trabalhadores mais pobres e menos escolarizados.
Os pesquisadores também apontam para uma possível correlação entre o aumento do valor real do programa Bolsa Família, que chegou a R$ 600 no final do governo Jair Bolsonaro e foi mantido por Luiz Inácio Lula da Silva, e a saída desses grupos do mercado de trabalho a partir de 2022. "Uma hipótese é que as pessoas estão esperando uma oferta melhor para sair de casa para trabalhar, isso de certa forma reduz a oferta de trabalho", avalia Barbosa Filho.
Os especialistas salientam, no entanto, que os dados disponíveis ainda não são suficientes para confirmar essa relação, embora indiquem que os beneficiários do Bolsa Família estão bem representados entre os que deixam a força de trabalho. Para Marcelo Neri, especialista em pobreza e desigualdade e diretor do FGV Social, ainda faltam evidências que analisem o impacto desses benefícios mais generosos na taxa de participação desses grupos no mercado de trabalho.
De uma maneira geral, as camadas mais vulneráveis da população, que já enfrentam desafios em termos de qualificação e salários, estão agora ainda mais expostas. "Os grupos de menor escolaridade e de menores salários são os que estão mais vulneráveis, em ocupações mais frágeis e com maior risco de demissão. Acabam saindo do mercado de trabalho", finaliza Barbosa Filho.