Mercado reage à tarifa de Trump e juros futuros disparam no Brasil
Anúncio de tarifa de 50% dos EUA impacta vencimentos a partir de 2028 e pressiona política econômica brasileira
Por Plox
09/07/2025 22h40 - Atualizado há 2 dias
O impacto da nova tarifa comercial de 50% imposta pelos Estados Unidos ao Brasil, anunciada pelo presidente Donald Trump, já começa a ser sentido diretamente no mercado financeiro brasileiro. Nesta quarta-feira, 9 de julho, os juros futuros apresentaram uma escalada, especialmente nos contratos com vencimentos a partir de 2028, que atingiram suas máximas intradia ao longo do dia.

Apesar de o movimento ter sido mais contido que o observado em outros ativos locais, o fechamento da sessão registrou alta generalizada. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 passou a operar em 14,930%, levemente acima dos 14,923% registrados no ajuste anterior. Já o DI de janeiro de 2027 avançou para 14,270%, contra os 14,175% do dia anterior. Para os contratos mais longos, o vértice de janeiro de 2028 subiu de 13,419% para 13,595%, enquanto o de janeiro de 2029 foi de 13,304% para 13,485%.
No mesmo período, os juros dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) recuavam, refletindo a divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA. O documento revelou divergências internas entre os membros do Comitê de Mercado Aberto (FOMC) sobre o rumo da política de juros. A consultoria Pantheon Macroeconomics observou que a criação de empregos registrada no payroll de junho reforçou o grupo mais conservador da autoridade monetária americana. Mesmo assim, a expectativa da consultoria é de que o mercado de trabalho dos EUA desacelere, permitindo possíveis cortes de 0,25 ponto percentual nas próximas reuniões de setembro, outubro e dezembro.
No Brasil, o cenário de incerteza também se intensificou com a ofensiva tarifária americana. Para Tiago Hansen, diretor da Alphawave Capital, o principal reflexo da decisão de Trump se deu nos contratos de vencimento mais longos.
“O estresse maior, no entanto, está concentrado no câmbio. Os juros ainda não absorveram completamente a pressão da tarifa sobre o Brasil”
, ponderou.
Economistas apontam que o movimento da curva de juros brasileira tem sido guiado principalmente por fatores internos. Matheus Spiess, estrategista da Empiricus Research, destacou dois pontos cruciais: o andamento das negociações entre governo e Congresso sobre o aumento do IOF e os indicadores recentes de atividade econômica e inflação. Segundo ele, as falas de Trump impactaram mais diretamente o dólar e a Bolsa brasileira do que os juros em si.
Ainda na noite anterior, terça-feira (8), ocorreu uma reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Haddad, acompanhado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, reafirmou aos parlamentares que o governo não pretende abrir mão dos termos do decreto que eleva o IOF.
Segundo Spiess, essa postura do governo agrava o quadro de instabilidade.
“Essa retórica é ruim. O governo está tentando dobrar a aposta com o eleitorado, o que pressiona os vértices mais longos da curva de juros”
, afirmou.
O impacto do cenário internacional, somado às incertezas políticas e econômicas internas, tem elevado o grau de cautela entre investidores e analistas. A reação do mercado nesta quarta-feira evidencia o quanto a relação Brasil-EUA, especialmente sob a gestão de Trump, pode influenciar diretamente os rumos da economia brasileira.