Amnésia digital: tecnologia compromete memória e aprendizado

A dependência de dispositivos digitais está alterando a forma como armazenamos informações, afetando negativamente nossa capacidade de memorização e aprendizado

Por Plox

09/09/2024 15h19 - Atualizado há 25 dias

A facilidade de acesso a informações por meio de smartphones e computadores tem transformado a maneira como lidamos com a memorização. Segundo o neurocirurgião Felipe Mendes, o fenômeno, conhecido como amnésia digital, ocorre quando as pessoas deixam de memorizar dados facilmente acessíveis por meio de dispositivos digitais. Ele explica que, neurobiologicamente, o esforço ativo e repetitivo na memorização é essencial para fortalecer as conexões sinápticas e armazenar informações na memória de longo prazo.

Foto: reprodução/ Freepik

Mudanças comportamentais com o uso da tecnologia

O psiquiatra Bruno Brandão compara o cenário atual com a época anterior à popularização dos smartphones, quando era comum memorizar números de telefone, endereços e outras informações diárias. “Antigamente, memorizávamos tudo porque não havia outra alternativa. Com os dispositivos digitais, o cérebro economiza energia, evitando memorizar o que julga desnecessário. Essa externalização da memória leva à redução da capacidade de armazenar informações de longo prazo”, destaca Brandão. Ele alerta que a dependência dos aparelhos eletrônicos pode resultar em um cérebro “preguiçoso”, menos propenso a se esforçar na memorização.

Pesquisa revela dependência digital para lembrar informações básicas

Uma pesquisa da Kaspersky Lab, que entrevistou 6.000 pessoas com 16 anos ou mais, revelou a extensão dessa dependência digital. Os resultados mostraram que, enquanto a maioria dos participantes se lembrava do número de telefone da casa onde viviam aos 10 anos, 53% não conseguiam lembrar o número dos filhos e 51% desconheciam o telefone do local de trabalho sem consultar seus celulares. Além disso, cerca de um terço dos entrevistados não conseguia ligar para o parceiro sem consultar o dispositivo.

Extensão da memória ao digital e seus efeitos

A pesquisa também apontou que quase metade dos proprietários de smartphones entre 16 e 34 anos e 40% dos usuários entre 35 e 44 anos afirmaram que seus telefones continham quase todas as informações que precisavam lembrar. Notavelmente, 79,5% dos participantes consideram a internet como uma extensão do cérebro, e 36% procuram respostas online antes de tentar se lembrar por conta própria. Segundo a neurologista Paulyane Gomes, esse comportamento pode levar a transtornos como insônia, falta de foco, impaciência e aumento da agressividade, além de problemas de ansiedade, depressão e compulsão.

Consequências na infância e desenvolvimento

Paulyane Gomes também expressa preocupação com o uso de dispositivos digitais na infância. Estudos indicam que o tempo excessivo de tela está associado a prejuízos no desenvolvimento de habilidades sensório-motoras, resolução de problemas, aquisição de linguagem, vocabulário e compreensão de leitura. Esses efeitos podem resultar em memorização superficial, dificuldade de retenção a longo prazo e desempenho acadêmico comprometido.

Excesso de informações sobrecarrega o cérebro

Além do fácil acesso, a quantidade de informações disponíveis diariamente também tem efeitos negativos. Felipe Gomes explica que o excesso de dados a que somos expostos pode causar sobrecarga cognitiva, dificultando o processamento e armazenamento de novas informações. Estima-se que diariamente somos expostos a cerca de 74 gigabytes de dados, o que equivale a 16 filmes ou à leitura de mais de 200 mil palavras. Essa “fadiga cognitiva” afeta significativamente a capacidade de focar e reter informações.

Sobrecarga de dados e impacto no aprendizado

Bruno Brandão acrescenta que o constante bombardeio de informações prejudica a capacidade do cérebro de priorizar e consolidar o que é realmente importante, afetando o aprendizado. “Lemos mais do que nunca, mas em fragmentos. A falta de uma informação sólida e elaborada gera um impacto negativo no aprendizado”, conclui Brandão.

A amnésia digital e o excesso de informações são desafios contemporâneos que afetam nossa memória, atenção e aprendizado. 

 

 

 

 

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