60 anos do massacre de Ipatinga: historiadora fala sobre mitos X verdades

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Por Plox

09/10/2023 19h05 - Atualizado há cerca de 1 ano

07 de outubro de 1963: data que entrou para a história de Ipatinga antes mesmo da cidade ser emancipada. Foi quando ocorreu  o movimento de trabalhadores com o maior número de mortos, dentre os episódios conhecidos em Minas Gerais. É o que ficou conhecido como “Massacre de Ipatinga”. Um assunto que por décadas era pouco comentado na cidade. Mas em 2007, a historiadora Marilene Tuler lança o livro "Massacre de Ipatinga: Mitos e Verdades". A pesquisadora relaciona o episódio ocorrido em 7 de outubro de 1963 ao contexto nacional pré-golpe de 1964. Ela é a entrevistada desta segunda-feira (09) do PodPlox. Acompanhe!

Marilene Tuler é professora de História,  historiadora, mestre em História Social. Sobre o livro, ela relata o seguinte:
O silêncio que foi construído sobre o episódio sempre incomodou-me. Cresci em uma família em que meus 4 irmãos e meu pai trabalharam na construção da Usiminas. Eles vivenciaram os ocorridos em 7 de outubro de 1963 e sempre evitaram falar sobre o assunto. Mesma atitude tomada pela grande maioria dos que presenciaram ou participaram do acontecimento.
Em 1979 tornei-me professora de História e sempre busquei informações sobre o assunto. As informações eram poucas e, muitas das vezes, sem muita credibilidade.
Em 2005 iniciei um Mestrado em História Social, tomei coragem e aprofundei minhas pesquisas: o resultado delas foi publicado no livro "Massacre de Ipatinga: Mitos e Verdades".
Hoje sinto-me especialmente realizada ao constatar que, no meio acadêmico minha pesquisa é referência para muitos pesquisadores e que, em Ipatinga, consegui ajudar a derrubar a barreira do silêncio.

O troféu Direitos Humanos Chico Ferramenta que recebi em 6 de outubro de 2023 deixa-me honrada e satisfeita com as repercussões do meu trabalho.
“Dia da Luta Operária”
A data de 7 de outubro entrou definitivamente para o calendário do município com a aprovação, pela Câmara, do Projeto de Lei – de autoria da vereadora Cecília Ferramenta – que cria o “Dia da Luta Operária”. Conforme a autora do projeto, a data visa a preservar, honrar e homenagear a memória dos trabalhadores da cidade, particularmente os metalúrgicos da Usiminas, pelo “Massacre de Ipatinga”.
A vereadora lembrou que, antes da aprovação do seu Projeto de Lei, o chamado “Massacre de Ipatinga” já havia sido reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade, que, em 2013, realizou uma audiência pública no fórum da Comarca e realizou um minucioso e detalhado sobre o “Massacre” que culminou com o reconhecimento oficial do episódio e a concessão de anistia a dezenas de ex-metalúrgicos demitidos pela Usiminas por envolvimento com a luta sindical.
“O dia 7 de outubro de 1963 é um dos principais marcos da história de Ipatinga, resultado de um conflito surgido depois que os metalúrgicos se revoltaram com as más condições de trabalho e a humilhação que sofriam ao serem revistados antes de entrarem e saírem da empresa para sua jornada de trabalho. Essa data é um suporte da memória do trabalhador de Ipatinga, construído pela via da luta operária, e a inclusão dessa data importante no calendário oficial do município é também uma forma de resgatar a memória coletiva, sufocada pelo desaparecimento dos seus suportes materiais e relegada a uma espécie de ruína que, entretanto, resiste ao tempo e preserva o sentimento de humanidade como determinante do tempo e do espaço vividos”, destacou a vereadora Cecília Ferramenta.
 

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