Figo não é fruta! E tem mais: pode conter vespa; entenda

Apesar de popularmente conhecido como fruta, o figo é na verdade se encaixa em outra categoria

Por Plox

09/10/2024 09h24 - Atualizado há 12 dias

O figo, amplamente consumido em sobremesas e nas ceias de Natal, está no centro de um debate peculiar: sua classificação como alimento vegano. Embora pareça uma fruta, o figo, na realidade, é uma flor invertida que, em seu processo natural de polinização, envolve a interação com vespas. Essa característica tem gerado questionamentos entre os que seguem uma dieta vegana, levando especialistas a explicarem suas peculiaridades.

Foto: reprodução/ Freepik

Figo: uma flor invertida

Ao contrário das frutas convencionais, o figo é tecnicamente uma flor invertida. Suas estruturas florais estão voltadas para o interior, o que impede que polinizadores comuns, como abelhas, realizem seu processo de fecundação. Conforme explicado pelo professor Paulo Minatel Gonella, do Departamento de Ciências Exatas e Biológicas da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), o figo é dependente da vespa-do-figo para gerar sementes férteis.

Essa polinização ocorre quando a vespa entra no figo através de uma pequena abertura, depositando seus ovos e fecundando as flores femininas com o pólen trazido de outro figo. No entanto, após cumprir seu papel na fecundação, a vespa morre dentro do figo e é digerida pela planta através de uma enzima chamada ficina.

A relação com a vespa e sua digestão

O processo pelo qual o figo digere a vespa morta pode ser comparado ao mecanismo de uma planta carnívora, mas com uma diferença crucial. Enquanto plantas carnívoras se alimentam de insetos para suprir a falta de nutrientes como nitrogênio e fósforo, o figo utiliza a ficina como um mecanismo de defesa. O objetivo é controlar a proliferação das vespas, essenciais para sua polinização, mas que poderiam se multiplicar de forma prejudicial à planta.

Esse fenômeno desperta debates sobre a viabilidade de figos na dieta vegana. Afinal, o alimento envolve um processo que resulta na morte de um inseto.

Figos para consumo humano são diferentes

A boa notícia para veganos vem dos avanços da ciência. Conforme destaca o professor Gonella, a maioria dos figos disponíveis no mercado para consumo humano não passa mais por esse processo natural de polinização por vespas. Graças ao desenvolvimento de variedades geneticamente modificadas, os figos comercializados hoje possuem apenas flores femininas e não necessitam da polinização para se desenvolver.

Além disso, esses figos são cultivados de maneira controlada. Durante o desenvolvimento, eles são ensacados para evitar a entrada das vespas e proteger os frutos de pássaros, que na natureza ajudariam a espalhar suas sementes. No entanto, as variedades cultivadas não produzem sementes férteis, o que elimina a necessidade de polinização animal. Agricultores utilizam técnicas como a clonagem e a estaquia para a reprodução, garantindo a produção contínua de figos sem interferência de insetos.

Essas modificações permitiram que o figo se tornasse um alimento acessível a diferentes dietas, incluindo a vegana, já que o processo natural de interação com a vespa não ocorre mais na maioria das variedades consumidas atualmente.

 

 

 

 

 

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