Filme "Candeeiro do Vale" expõe mudanças culturais no Jequitinhonha com exploração de lítio

Curta-metragem, destaque no Matula Film Festival, retrata o impacto da mineração na cultura alimentar local.

Por Plox

09/11/2024 09h44 - Atualizado há 13 dias

A crescente exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha, um mineral essencial para a transição energética global, vem impactando diretamente a vida e os costumes alimentares da população local. Com a chegada de empresas estrangeiras e o aumento de profissionais estrangeiros na região, produtos típicos e acessíveis, como o leite, base para o tradicional requeijão moreno, sofreram um aumento considerável no preço. Essa mudança no cotidiano elevou o custo de vida e trouxe novos ingredientes à mesa dos habitantes, alterando sabores e práticas culturais profundamente enraizadas.

Foto: EMBRAFILME/DIVULGAÇÃO

Candeeiro do Vale: um registro essencial

Para documentar essas transformações, as cineastas Daniela Fernandes e Marcella Cabral decidiram captar in loco o momento delicado vivido pelas comunidades locais. O resultado é o curta-metragem "Candeeiro do Vale", que será exibido no Matula Film Festival, evento realizado no terraço do Cine Theatro Brasil. Segundo Daniela, o filme "é uma forma de registrar esse momento do Vale", já que as rápidas mudanças podem, no futuro, substituir completamente a identidade alimentar local.

Impacto cultural da exploração do lítio

Daniela Fernandes, que também coordena o Matula Film Festival, observa que as mudanças na região não se limitam à alimentação. A população dobrou com a chegada de estrangeiros que trazem hábitos alimentares distintos, resultando em uma alteração drástica na cultura gastronômica local. "A exploração do lítio também vem acontecendo em áreas indígenas, alterando o modo de vida dessas comunidades," ela destaca, ressaltando a perda iminente das tradições locais em nome do desenvolvimento econômico.

Projeto audiovisual em prol das comunidades

"Candeeiro do Vale" é o primeiro filme produzido com o selo do Matula Film Festival, que tem planos de expandir seu alcance. O projeto é pioneiro e pretende, no futuro, oferecer formação audiovisual para que as próprias comunidades possam documentar e preservar sua cultura alimentar. “Queremos levar a formação de audiovisual para as comunidades, para que elas possam fazer seus próprios registros”, explica Daniela, enfatizando a importância do audiovisual como ferramenta de preservação cultural.

Curadoria focada na comida e no cinema popular

O jornalista gastronômico e crítico de cinema Guilherme Lobão, responsável pela curadoria do festival, define o tema deste ano como "Comida Popular", visando a valorização tanto da culinária quanto do cinema popular. A programação do Matula é cuidadosamente planejada para exibir filmes que abordam a estética e geografia da gastronomia e do cinema. “Como a gente está em Minas, tudo isso se amarra com o bar”, diz Lobão, conectando a tradição mineira de bares à temática do festival.

Programação variada e celebração cultural

A programação do Matula Film Festival abre com o clássico "Bar Esperança" de Hugo Carvana, lançado em 1983, e encerra com "Saideira", uma produção recente filmada em Minas Gerais. Além dessas exibições, o festival apresentará episódios da série "Terra Viva", que traz o cotidiano de agroextrativistas em regiões remotas do Brasil, ressaltando a relação entre o trabalho da terra e a cultura alimentar.

O Matula Film Festival surge como uma plataforma de debate e preservação da cultura gastronômica em meio a transformações intensas, celebrando as histórias e sabores do Vale do Jequitinhonha e além.

 

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