Casos de HIV entre pessoas com mais de 50 anos crescem 13% em Minas Gerais

Entre 2022 e novembro de 2024, foram registrados 2.276 novos casos de HIV no grupo 50+. Campanha Dezembro Vermelho reforça a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.

Por Plox

09/12/2024 09h50 - Atualizado há 2 dias

O número de pessoas diagnosticadas com HIV na faixa etária de 50 a 79 anos tem crescido em Minas Gerais. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), entre janeiro de 2022 e o início de novembro de 2024, foram registrados 2.276 novos casos de infecção pelo vírus nesse grupo. O aumento foi de 13% entre 2022 e 2023, quando os registros passaram de 761 para 863 casos. Em 2024, até novembro, já foram notificadas 652 infecções.

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Embora o diagnóstico de HIV não signifique a presença da AIDS — que é a forma mais grave da infecção pelo vírus —, a preocupação com o aumento de casos na população 50+ tem mobilizado autoridades de saúde. Para alertar a sociedade sobre a importância do diagnóstico e do tratamento, o mês de dezembro é marcado pela campanha "Dezembro Vermelho", realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com os estados e municípios.

Prevenção e ações em Minas Gerais

Durante o Dezembro Vermelho, a SES-MG intensifica a divulgação de informações sobre a prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), incluindo o HIV. Segundo a diretora de Vigilância de Condições Crônicas da SES-MG, Ana Paula Mendes Carvalho, a campanha busca conscientizar a população. "Realizamos publicações nas redes sociais e divulgamos informações para sensibilizar a população", explica.

Os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que desejarem fazer o teste de HIV podem procurar as unidades de saúde. “Se o resultado for positivo, o tratamento será iniciado imediatamente. A medicação é gratuita e disponibilizada pelo SUS”, afirmou Ana Paula.

Em Belo Horizonte, a Prefeitura informou que as ações de prevenção e atendimento a pessoas com HIV ou AIDS ocorrem ao longo de todo o ano, e não apenas em dezembro. Entre as iniciativas, estão a oferta de testes rápidos para HIV, hepatites virais e sífilis, bem como o diagnóstico e tratamento dessas doenças. A capital também disponibiliza o Teste Rápido Duo, que detecta simultaneamente HIV e sífilis em gestantes durante o pré-natal.

Mudança no perfil e os desafios para a prevenção

De acordo com o geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Cintra, o aumento de casos de HIV na população idosa pode ser explicado por fatores sociais e biológicos. Segundo ele, muitos idosos não utilizam preservativos, já que não têm preocupação com gravidez, e o aumento do uso de aplicativos de relacionamento também facilita o surgimento de novos relacionamentos afetivos e sexuais.

“É preciso deixar claro para essa faixa etária que o preservativo não é apenas um método contraceptivo, mas também uma alternativa eficaz para prevenir muitas infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV”, afirma o especialista. Além disso, fatores biológicos, como a pouca lubrificação vaginal e a fragilidade da mucosa anal e vaginal, aumentam o risco de infecção pelo vírus.

Para o geriatra, também é necessário capacitar os médicos para suspeitarem de HIV em pessoas idosas com sintomas de emagrecimento acentuado, por exemplo. "Muitas vezes, os profissionais suspeitam de câncer ou outras doenças, mas raramente associam o quadro ao HIV, o que retarda o diagnóstico", pontua.

A importância do acolhimento e do tratamento

Descobrir a infecção pelo HIV pode provocar uma série de reações emocionais, como negação, raiva e tristeza, segundo Cintra. Por isso, ele ressalta a importância do acolhimento para que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível. "Não podemos esquecer a questão da saúde mental e emocional dessas pessoas, já que o estigma social ainda afeta a autoestima e o bem-estar psicológico dos idosos", afirma.

Atualmente, os tratamentos contra o HIV utilizam a terapia antirretroviral (TARV), que ajuda a controlar a carga viral e permite uma vida normal para as pessoas que aderem ao tratamento. Para os idosos, no entanto, o acompanhamento médico precisa ser ainda mais cuidadoso, já que muitos têm comorbidades, como diabetes e hipertensão, que exigem ajustes na dosagem dos medicamentos.

Histórias de superação

Exemplos de superação e resiliência de pessoas vivendo com HIV reforçam a importância do tratamento e do acolhimento. É o caso de Heliana Moura, de 55 anos, que convive com o HIV há 28 anos. Assistente social e mãe de dois filhos, ela lembra a dificuldade de receber o diagnóstico em 1995, quando os tratamentos eram limitados e a expectativa de vida era curta.

“De lá para cá, apesar de termos medicamentos e tratamentos eficazes, as pessoas ainda têm muita dificuldade de receber o diagnóstico. Existe muito preconceito, e o estigma infelizmente predomina”, diz Heliana.

Heliana afirma que o HIV não define quem ela é e que a infecção a levou a repensar a própria vida. "O HIV foi um professor. A partir dele, pude me reinventar e mudar muitas coisas. Ele me possibilitou ser uma pessoa e uma profissional melhor", relata. Mãe de dois filhos — uma menina nascida antes de seu diagnóstico e um menino nascido depois —, ela reforça que as mulheres que seguem o tratamento corretamente não transmitem o vírus para o bebê.

Outra história de superação é a de Francisco Adalton Aleixo da Mota, de 72 anos, que foi infectado pelo HIV há 41 anos em um acidente de trânsito. Ele lembra que, na década de 1980, ter HIV era sinônimo de morte. "Minhas primeiras providências foram o isolamento, a compra de um jazigo no cemitério e um plano para adquirir um caixão", conta.

Atualmente aposentado, Francisco se dedica a ministrar palestras sobre prevenção ao HIV. “Meu trabalho é romper barreiras do preconceito e libertar as pessoas do medo ao receberem o diagnóstico. Digo a elas que se aceitem”, afirma.

Ações de prevenção e dados em BH

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA), entre janeiro de 2022 e novembro de 2024, foram registrados 1.993 novos casos de infecção por HIV e 572 novos casos de AIDS na capital mineira. As faixas etárias mais afetadas são as de 20 a 34 anos.

A cidade também registrou 641 casos de hepatites virais e 14.723 casos de sífilis no mesmo período. Para ampliar o acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, as consultas passaram a ser ofertadas em todos os 153 centros de saúde de Belo Horizonte. Antes, o serviço era oferecido em apenas cinco unidades de atenção especializada.

Prevenção desde a infância

Para o infectologista Carlos Starling, a prevenção contra o HIV deve começar na infância. Ele defende a inclusão de temas sobre sexualidade e prevenção de ISTs no currículo escolar a partir dos 10 anos. “É preciso falar abertamente e orientar. Isso é um papel do Estado e da família”, afirma.

Ele também destaca a importância do sexo seguro, que inclui o uso de preservativos e a prevenção combinada, com o uso de medicamentos antirretrovirais. O especialista reforça que, apesar dos avanços no tratamento, a AIDS ainda é uma questão de saúde pública no Brasil, onde cerca de 30 pessoas morrem por dia devido à doença.

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