Produção de ovos de galinhas livres cresce em Minas e atrai produtores; entenda as diferenças

Empresas do estado investem no mercado de ovos livres de gaiolas, visando o bem-estar animal e a alta demanda do consumidor.

Por Plox

09/12/2024 09h57 - Atualizado há 3 dias

Galinhas criadas em espaços amplos, com liberdade para ciscar, se empoleirar e expressar comportamentos naturais. Esse modelo de criação, conhecido como "galinhas livres" ou "galinhas felizes", está em expansão no mercado mineiro, impulsionado pelo aumento da demanda por produtos que garantam maior bem-estar animal. Empresas do estado têm apostado nessa modalidade, atraindo consumidores dispostos a pagar mais por um produto diferenciado.

De acordo com Mariana Simões, analista de agronegócios do Sistema Faemg Senar, o segmento está em crescimento e conta com um público cada vez mais interessado. “Hoje há uma preocupação do consumidor com o bem-estar animal. É um nicho que tem se sustentado, os produtores têm investido e a população tem gostado”, afirma.

Custos e desafios da produção de ovos de galinhas livres

A criação de galinhas livres exige um investimento maior em estrutura, manejo e controle ambiental, o que reflete no preço final do produto. “Para tornar o sistema viável, o produtor precisa repassar o custo ao consumidor. Mas existe uma parcela do público que aceita e busca por esse tipo de produto”, explica Mariana Simões.

Um exemplo desse crescimento é a Fazenda Speranza, localizada em São Sebastião do Oeste, no Oeste de Minas. Guilherme Baruffi, fundador da fazenda, trocou o setor automobilístico pela produção de ovos em 2021. De lá para cá, o número de aves saltou de 3.500 para 120 mil, e a produção diária de ovos chegou a 60 mil unidades, com potencial para aumentar para 80 mil nos próximos meses.

“Criar galinhas livres consiste em permitir que a ave tenha liberdade para se locomover, se empoleirar, se alimentar e se comportar de forma natural. Isso inclui espaço adequado, alimentação saudável e acesso a ambientes enriquecidos”, explica Guilherme.

Empresas ampliam investimentos no setor

Outra gigante do setor, a Mantiqueira Brasil, lançou em 2021 a marca Happy Eggs®, com foco na produção de ovos de galinhas livres. Atualmente, 20% da produção da empresa vem dessa modalidade, mas o objetivo é ampliar esse percentual. Para isso, a Mantiqueira aderiu à Coalizão Brasileira de Bem-estar Animal (COBEA) e projeta que, até o fim de 2024, mais de 3 milhões de suas galinhas sejam criadas no modelo de liberdade.

“Embora os dados no Brasil ainda não sejam precisos, estima-se que os ovos de galinhas livres representem cerca de 5% do mercado nacional. No entanto, o segmento pode alcançar até 20% da produção total até 2030”, afirma André Carvalho, diretor de marketing e inovação da Mantiqueira Brasil.

Atualmente, Minas Gerais é o terceiro maior produtor de ovos de granja do Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo e Paraná. Segundo a Faemg, o estado foi responsável por 9,5% da produção nacional de ovos no primeiro semestre de 2024, registrando um crescimento de 17%, acima da média nacional, que foi de 8%.

Galinhas realmente são livres? Entenda o conceito

O conceito de galinhas livres se diferencia da criação convencional em granjas, onde as aves ficam em gaiolas apertadas. Nessa modalidade, as galinhas têm espaço para se movimentar, ciscar e se empoleirar, comportamentos naturais da espécie.

De acordo com produtores, as galinhas criadas soltas não recebem hormônios ou medicamentos que possam interferir na qualidade dos ovos. Elas têm acesso a uma alimentação balanceada e espaços para “tomar banho de areia” — prática em que as aves se reviram em palha ou areia para se limpar de parasitas.

Pixabay

“Na Fazenda Speranza, as aves têm liberdade para se comportar como na natureza. Quando confinadas, ficam em um espaço com controle de temperatura e umidade, e acesso à luz natural”, explica Guilherme Baruffi. Segundo ele, o espaço destinado às aves segue normas de bem-estar animal, com sete aves por metro quadrado, bem abaixo do padrão de 15 a 16 aves por metro adotado em granjas convencionais.

Na Mantiqueira, o ambiente também segue regras de controle de bem-estar. “As aves são mantidas em ambientes controlados, onde têm liberdade para se movimentar, ciscar, abrir as asas e ter acesso a poleiros e ninhos”, afirma André Carvalho.

Restrições de criação ao ar livre e controle de doenças

Embora a criação de galinhas livres seja uma tendência de crescimento, algumas restrições sanitárias afetam o setor. Em março de 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou uma portaria que proibiu a criação de aves totalmente soltas em áreas abertas, como pastos, para reduzir o risco de contaminação pela Influenza Aviária. A norma foi revogada em abril de 2024, mas o estado de emergência zoossanitária segue em vigor.

Atualmente, o Mapa disponibiliza um manual de biosseguridade, que orienta os produtores a fechar as criações nos meses de maior risco, como o período de migração de aves da América do Norte, entre novembro e março.

Ovo caipira e orgânico também ganham espaço

Além do ovo de galinhas livres, o ovo caipira orgânico também tem atraído o interesse de consumidores. A principal diferença entre os dois está no modelo de criação e na alimentação das galinhas. Enquanto o ovo de galinhas livres ainda segue um padrão de granja, com maior controle e estrutura, o ovo caipira vem de criações menores, onde as aves têm acesso a uma alimentação mais natural.

Um exemplo desse movimento é o projeto Ovo Fácil, que busca aproximar o consumidor final dos ovos caipiras. A iniciativa consiste em levar carrinhos com ovos para condomínios residenciais, onde os moradores podem adquirir o produto via sistema de autoatendimento. Segundo Cláudia Ligório, CEO e fundadora da Fazendinha em Casa, o projeto expandiu de 70 para 94 condomínios em dois anos, e as vendas cresceram 400%, considerando também parcerias com pequenos empórios.

“Nossos principais reguladores são os consumidores. Temos clientes de anos que continuam comprando com a gente. Eles percebem a diferença, a ponto de dizerem que o bolo não é o mesmo quando utilizam ovos convencionais”, relata Cláudia.

Atualmente, os ovos da marca são vendidos por R$ 17,90 a dúzia e de R$ 238 a R$ 298 a caixa com 360 unidades.

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