Política

Presa no exterior, gabinete de Carla Zambelli segue ativo e já soma mais de R$ 547 mil em gastos

Deputada está detida na Itália desde julho de 2025, mas mantém 12 assessores em funcionamento na Câmara e registra R$ 3,9 milhões em emendas atreladas ao mandato, expondo brechas na legislação e reacendendo debate sobre privilégios no Legislativo

09/12/2025 às 12:21 por Redação Plox

Mesmo presa na Itália desde julho de 2025, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) mantém um gabinete em plena atividade na Câmara dos Deputados, com custos elevados para os cofres públicos. Levantamento realizado por David Gonçalves, correspondente do MD News na Itália, e confirmado pela Jovem Pan News, aponta que as despesas do gabinete somaram mais de R$ 547 mil entre julho e novembro deste ano.

De julho a novembro de 2025, os gastos do gabinete da deputada ficaram perto do limite autorizado pela Câmara, enquanto 12 assessores permanecem nos cargos

De julho a novembro de 2025, os gastos do gabinete da deputada ficaram perto do limite autorizado pela Câmara, enquanto 12 assessores permanecem nos cargos

Foto: Reprodução / Agência Brasil.


Os dados oficiais da Câmara mostram que, embora Zambelli esteja impossibilitada de atuar presencialmente, 12 assessores parlamentares seguem empregados e recebendo normalmente, preservando toda a estrutura de gabinete. Os gastos mensais registrados foram:

Julho: R$ 89.164,76
Agosto: R$ 89.085,89
Setembro: R$ 103.246,13
Outubro: R$ 132.886,58
Novembro: R$ 132.905,48

Despesas perto do teto e milhões em emendas

Os valores registrados se aproximam, sobretudo nos últimos meses, do teto máximo permitido para despesas de gabinete, atualmente em R$ 133.170,54 mensais. Além da folha salarial e das demais despesas correntes, o Portal da Transparência indica ainda R$ 3,9 milhões em emendas parlamentares vinculadas ao mandato de Zambelli.

Defesa nega irregularidades

Questionada sobre os números, a defesa da deputada sustenta que não há qualquer irregularidade no funcionamento da estrutura. Em nota enviada ao MD News, a equipe afirma que, embora Zambelli esteja presa, o gabinete continua atuando dentro das regras estabelecidas.

A deputada está presa, não tem acesso às suas emendas. O gabinete funciona normalmente para cuidar de projetos e do dia a dia parlamentar, mas não pode indicar emendas; isso está expressamente proibido. Os valores aparecem no sistema porque toda emenda passa pelo gabinete correspondente, ainda que não possa ser executada. Não há dano ao erário, já que a destinação depende de atos que Zambelli está impedida de praticar.

Defesa de Carla Zambelli, em nota ao MD News

Zona cinzenta na legislação

A situação abre espaço para dúvidas sobre os limites do uso de recursos públicos quando o titular do mandato está impedido de atuar. A legislação brasileira não prevê a suspensão automática de gabinete em caso de prisão no exterior, o que cria uma zona cinzenta em relação à manutenção de assessores, salários e estrutura custeada pelo contribuinte, mesmo sem atuação direta da parlamentar.


Embora o procedimento adotado no caso de Zambelli seja considerado legal, o episódio expõe a ausência de mecanismos que permitam ajustar o uso de verbas públicas em cenários excepcionais. A continuidade integral do gabinete, mesmo com a deputada detida fora do país, reabre o debate sobre possíveis reformas administrativas e revisão das regras de funcionamento dos gabinetes legislativos.

Pressão por revisão de privilégios

Para especialistas e observadores do Congresso, a situação pode servir de ponto de partida para que deputados e senadores discutam mudanças nas normas que regem o uso de recursos pelos mandatos. A questão central é se o Parlamento estará disposto a rever benefícios e prerrogativas que garantem a manutenção de estruturas completas, mesmo quando o parlamentar está, na prática, afastado de suas funções.

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