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Economia
Correios encaram maior crise em uma década e podem receber aporte bilionário da União
Com 13 trimestres seguidos de prejuízo e rombo previsto de R$ 6 bilhões em 2025, estatal negocia socorro condicionado a cortes estruturais, eficiência e venda de ativos, enquanto especialistas alertam para risco de colapso operacional
09/12/2025 às 06:59por Redação Plox
09/12/2025 às 06:59
— por Redação Plox
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A crise financeira dos Correios chegou ao ponto mais crítico em mais de uma década. A estatal acumula 13 trimestres consecutivos de prejuízo e terminou setembro de 2025 com um rombo estimado em R$ 6 bilhões apenas neste ano.
A deterioração das contas, que se arrasta desde 2022, se acelerou em 2024 e 2025, pressionada pela queda de receitas, aumento de despesas e mudanças profundas no mercado de entregas, com o avanço da concorrência e a criação do Remessa Conforme, conhecido como “taxa das blusinhas”.
O governo federal, pressionado a socorrer a empresa, já sinalizou que qualquer apoio financeiro depende de um plano de recuperação sólido, com metas claras e cortes estruturais.
Com dívidas elevadas e sob pressão de decisões fiscais, os Correios buscam evitar o colapso enquanto o Tesouro condiciona a ajuda a novos ajustes
Foto: Reprodução
Haddad fala em aporte, mas condiciona ajuda a contrapartidas
Nesta segunda-feira (8/12), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a tratar da situação da estatal. Após já ter indicado a possibilidade de apoio financeiro aos Correios, ele admitiu que o Tesouro está encarregado de elaborar um plano de reestruturação e que haveria espaço para um aporte da União.
Haddad afirmou que o valor poderia chegar a até R$ 6 bilhões, mas reforçou que as negociações ainda não foram concluídas. Segundo ele, o montante pode ser previsto tanto por meio de crédito extraordinário quanto em Projeto de Lei.
De qualquer forma, o ministro vem reiterando que o socorro só será liberado mediante contrapartidas. Em resumo, a estatal precisará demonstrar capacidade de “arrumar a casa” antes de receber recursos públicos.
Queda de envios, perda de receita e alta de custos
Os Correios enfrentam queda no volume de envios há anos, inicialmente com a redução de faturas físicas em papel e, depois, com o avanço de empresas privadas de logística. Em 2024, a estatal já registrava prejuízo de R$ 2,6 bilhões, mais de quatro vezes o déficit do ano anterior. De janeiro a setembro de 2025, o resultado negativo acumulado chegou a R$ 6,05 bilhões.
A empresa perdeu receita em serviços postais tradicionais e viu as despesas crescerem, especialmente com juros e manutenção da estrutura. Os Correios mantêm a maior rede logística do país, presente em 100% dos municípios, inclusive em áreas onde o serviço é deficitário por questões de acessibilidade.
Impacto da “taxa das blusinhas” nas encomendas internacionais
Um dos fatores que aceleraram a crise foi a mudança nas regras do comércio eletrônico internacional. Até 2023, plataformas estrangeiras como Shopee, Shein, AliExpress e Temu vendiam ao Brasil com isenção de imposto de importação para compras de até US$ 50.
O aumento do volume de pacotes vindos da Ásia impulsionou o uso dos serviços de tratamento e encaminhamento de encomendas internacionais dos Correios, uma das poucas áreas da estatal que ainda apresentava crescimento.
Com a criação da chamada “taxa das blusinhas”, que passou a cobrar imposto de importação também sobre compras de até US$ 50, o fluxo de encomendas internacionais diminuiu. Isso atingiu diretamente uma das linhas de receita mais dinâmicas da empresa.
Embora os Correios não dependam exclusivamente desse nicho, a queda no volume reduziu o faturamento de um segmento que vinha compensando, ao menos parcialmente, a retração nas cartas e nos serviços tradicionais.
Empréstimo de R$ 20 bilhões barrado pelo Tesouro
Para tentar conter a piora das contas, os Correios negociaram um empréstimo de R$ 20 bilhões com um consórcio de bancos públicos e privados. A proposta era garantir liquidez imediata, quitar dívidas urgentes, financiar a reestruturação e dar fôlego para reorganizar a rede logística.
Os bancos, porém, exigiram juros de aproximadamente 136% do CDI, acima do limite permitido pelo Tesouro Nacional para operações com garantia da União, que é de até 120% do CDI. Diante dessa condição, o empréstimo foi vetado.
A estatal afirma tentar renegociar a operação, mas admite que busca alternativas emergenciais se a linha de crédito não avançar. Na prática, isso pode acelerar medidas como venda de imóveis, corte de contratos, antecipação de receitas e o aprofundamento do programa de demissão voluntária (PDV), que já prevê a saída de até 15 mil funcionários.
O Ministério da Fazenda condiciona qualquer tipo de socorro à apresentação de um plano de recuperação formal e detalhado, com medidas de aumento de eficiência, ajustes de gestão, reorganização logística e redução expressiva de custos.
Para viabilizar o apoio sem pressionar ainda mais o orçamento, o governo incluiu na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 uma previsão que permite desconsiderar até R$ 10 bilhões em despesas destinadas a planos de reequilíbrio de estatais, entre elas os Correios, no cálculo da meta fiscal.
Medidas em estudo para reestruturar a estatal
O plano de reestruturação em discussão inclui um conjunto de ações consideradas duras, mas vistas como necessárias para recuperar a empresa:
– Fechamento de agências deficitárias, podendo superar mil unidades;
– Venda de imóveis ociosos, com expectativa de arrecadar cerca de R$ 1,5 bilhão;
– Programa de demissão voluntária para até 15 mil funcionários, com foco em enxugar a folha de pagamento;
– Revisão de contratos e cortes administrativos;
– Ampliação de parcerias e busca de novos nichos de receita.
Risco de colapso operacional e efeito em cascata
Especialistas alertam para o risco de estrangulamento da operação. Sem recursos suficientes para custeio, manutenção da frota, modernização de sistemas e pagamento de fornecedores, a empresa pode enfrentar atrasos, falhas nas entregas e perda de contratos relevantes.
Esse cenário criaria um círculo vicioso: a piora na qualidade do serviço tende a afastar clientes para concorrentes, o que derruba ainda mais a receita e aprofunda a crise financeira da estatal.