Brasil traça estratégias para minimizar impacto do 'tarifaço global' de Trump
Governo avalia medidas para proteger setores estratégicos e busca novos mercados diante de possível aumento de tarifas dos EUA
Por Plox
10/02/2025 08h36 - Atualizado há cerca de 1 mês
O governo brasileiro já está se preparando para enfrentar possíveis impactos econômicos caso o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, amplie as tarifas sobre produtos brasileiros. A pedido do vice-presidente Geraldo Alckmin, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior está conduzindo um mapeamento dos setores que podem ser mais afetados por essa guerra comercial e estudando medidas para minimizar prejuízos.
Reação brasileira e busca por novos mercados
O levantamento do governo não se limita a prever os danos econômicos, mas também considera os efeitos colaterais que eventuais retaliações podem gerar em outros setores de exportação e no mercado interno. Como parte da estratégia, o Brasil pretende acelerar a diversificação de mercados, reduzindo sua dependência dos EUA e fortalecendo laços com outros países.
Embora o governo mantenha cautela ao discutir publicamente o assunto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já declarou que o Brasil reagirá caso os produtos brasileiros sejam taxados por Trump. "Se ele [Trump] taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil em taxar os produtos que são exportados [ele se referia aos importados] para os Estados Unidos. Simples, não tem nenhuma dificuldade", afirmou Lula.

Setores mais vulneráveis
Entre os setores que podem ser mais prejudicados por um possível aumento das tarifas estão:
- Aço e máquinas e equipamentos: fundamentais para a indústria nacional, podem sofrer impacto caso a importação de insumos dos EUA seja dificultada.
- Carne: a exportação para os EUA pode enfrentar barreiras tarifárias.
- Combustíveis: o Brasil exporta petróleo bruto para os EUA e importa petróleo refinado, tornando-se vulnerável a medidas protecionistas.
- Semicondutores: a dependência da indústria brasileira em relação às empresas americanas desse setor pode dificultar a produção interna.
A preocupação do governo é que qualquer medida de retaliação contra os EUA pode ter um custo elevado para a própria economia brasileira. Isso aconteceu em 2009, quando o Brasil retaliou os EUA em uma disputa comercial envolvendo o setor de algodão. Na época, o Brasil foi autorizado a quebrar patentes de produtos farmacêuticos americanos como forma de retaliação.
Ação diplomática e estratégias alternativas
Técnicos do governo avaliam que, caso Trump imponha tarifas, o Brasil precisará não apenas reequilibrar suas relações comerciais, mas também ampliar suas parcerias internacionais. A aposta está na expansão dos negócios com os países dos Brics, especialmente China, Rússia e Índia.
A China, por exemplo, já reagiu à taxação imposta pelos EUA sobre suas exportações, impondo tarifas sobre produtos americanos estratégicos. Segundo especialistas, essa movimentação pode acabar beneficiando o Brasil, que teria espaço para aumentar sua exportação para o mercado chinês. "Caso a China adote retaliações em outras áreas que o Brasil seja competitivo, isso poderia aumentar a exportação brasileira para a China", afirmou Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.
No cenário mais crítico, o Brasil pode precisar reforçar seu mercado interno para absorver produtos que perderiam espaço no exterior devido ao protecionismo americano. Além disso, há estudos sobre o uso de instrumentos como salvaguardas e a suspensão do regime ex-tarifário, que reduz temporariamente o Imposto de Importação para determinados produtos.
Impacto no comércio Brasil-EUA
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil e representam um destino essencial para produtos de maior valor agregado. Os principais itens exportados pelo Brasil para os EUA incluem petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aço, e aeronaves. Já entre os importados, destacam-se motores e máquinas não elétricos, óleos combustíveis de petróleo e aeronaves.
De janeiro a dezembro de 2024, as exportações brasileiras para os EUA cresceram 9,2%, totalizando US$ 40,33 bilhões, enquanto as importações aumentaram 6,9%, chegando a US$ 40,58 bilhões. O comércio bilateral segue em expansão, mas as políticas protecionistas do governo Trump podem alterar essa dinâmica.
O temor do governo brasileiro é que Trump amplie seu escopo de tarifas, mirando não apenas a China, mas também a União Europeia e, eventualmente, o Brasil. Especialistas alertam que setores como ferro e autopeças podem ser impactados, especialmente devido à relação comercial entre Brasil, México e EUA no setor automotivo.
Trump e a escalada da guerra comercial
No início de fevereiro, Donald Trump assinou uma ordem executiva impondo tarifas de 25% sobre produtos importados do México e do Canadá, além de 10% sobre importações da China. Após negociações, os EUA suspenderam temporariamente as tarifas para o México e o Canadá.
A resposta da China veio rapidamente: Pequim impôs novas tarifas sobre produtos estratégicos dos EUA, renovando a tensão entre as duas maiores economias do mundo. Segundo especialistas, os chineses escolheram alvos específicos para pressionar os EUA, como minerais críticos usados na produção de armas e tecnologia de ponta.
A retaliação chinesa também serve como alerta para outros países, incluindo o Brasil, que deve se preparar para possíveis mudanças nas cadeias produtivas globais caso a guerra comercial se intensifique.
O Brasil fora da mira imediata, mas por quanto tempo?
Para Welber Barral, a prioridade de Trump, no momento, é a disputa com China e União Europeia, o que pode deixar o Brasil fora do foco imediato. No entanto, ele alerta que o comércio de ferro e autopeças pode ser afetado em um segundo momento. "O Brasil exporta bastante peças de ferro [para os EUA]. Isso poderia afetar bastante a indústria brasileira", explicou Barral.
Outro risco vem do impacto indireto das tarifas americanas sobre produtos mexicanos. Como muitas autopeças brasileiras são utilizadas na fabricação de veículos exportados do México para os EUA, um endurecimento das barreiras comerciais pode atingir também as empresas brasileiras.