Delegada é presa após Ministério Público apreender cerca de R$ 2 milhões no apartamento dela, no Rio de Janeiro

Adriana Belém foi presa na operação que investiga jogos de azar com envolvimentos de policiais

Por Plox

10/05/2022 17h49 - Atualizado há quase 2 anos

A delegada Adriana Belém foi presa na tarde de hoje (10), no Rio de Janeiro. Adriana foi um dos alvos da Operação Calígula, deflagrada nesta manhã pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). Foram apreendidos, até o momento, quase R$ 2 milhões na residência da delegada, segundo o MPRJ.

A prisão preventiva foi deferida pela Vara Especializada do Tribunal de Justiça. Em nota, o MPRJ diz que a delegada será levada para a Corregedoria da Polícia Civil.

A prisão foi obtida pela força-tarefa do GAECO para o caso Marielle e Anderson (GAECO/FTMA). Para os promotores de Justiça, o valor encontrado na residência de Belém é um forte indício de lavagem de dinheiro.

A Operação Calígula é, de acordo com o MPRJ, voltada a reprimir as ações da organização criminosa liderada por Rogério Costa de Andrade Silva, conhecido como Rogério de Andrade, e seu filho Gustavo de Andrade, integrada por outras pessoas, incluindo Ronnie Lessa, denunciado como executor do homicídio da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes.

A operação tem como objetivo o cumprimento de 29 mandados de prisão e 119 de busca e apreensão, incluindo quatro bingos comandados pelo grupo, tendo sido alvos de denúncia um total de 30 pessoas, pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Foto: Divulgação MPRJ

 

Agentes do Ministério Público do Rio apreenderam mais de R$ 1 milhão na casa da delegada Adriana Belém — Foto: Montagem/g1
Foto: Reprodução 

 

Adriana Belém deu recentemente um Jeep zero para o filho, que foi blindado um dia antes de ela ser presa — Foto: Reprodução
Foto: Reprodução 

 

Operação Calígula

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) deflagrou hoje (10) a Operação Calígula, para reprimir as ações da organização criminosa que tem à frente um bicheiro e seu filho e é integrada por dezenas de outros criminosos, incluindo o policial militar reformado Ronnie Lessa, denunciado como executor do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 março de 2018.

Agentes da Força Tarefa do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) para o caso Marielle e Anderson e da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ) estão nas ruas para cumprir 29 mandados de prisão e 119 de busca e apreensão, inclusive em quatro bingos comandados pelo grupo. Segundo o MPRJ, um total de 30 pessoas são alvos de denúncia pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Até as 7h, nove pessoas tinham sido presas.

As denúncias apresentadas pelo MPRJ indicam que o contraventor e o filho dele comandam uma estrutura criminosa organizada, ligada à exploração de jogos de azar que se estende a diversos estados além do Rio de Janeiro, locais onde há décadas exerce o domínio.

De acordo com os promotores de Justiça, a ação do grupo se baseia em dois pilares. “A habitual e permanente corrupção de agentes públicos e o emprego de violência contra concorrentes e desafetos, sendo esta organização criminosa suspeita da prática de inúmeros homicídios”, apontou.

No entendimento dos promotores de Justiça, a organização tem acertos de corrupção estáveis com agentes públicos integrantes de diversas esferas do Estado, principalmente ligados à Segurança Pública. Entre eles, agentes da Polícia Civil e da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

“Nesta esfera, integrantes da organização, membros da PCERJ [Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro], mantinham contatos permanentes com outros policiais corruptos, pactuando o pagamento de propinas em contrapartida ao favorecimento dos interesses do grupo”, indicou.

Foto: Divulgação MPRJ

 

Já na Polícia Militar, oficiais da corporação “serviam de elo entre a organização e Batalhões de Polícia, que recebiam valores mensais para permitir o livre funcionamento das casas de apostas do grupo”.

O MPRJ citou um dos episódios de atuação desses integrantes, quando um delegado de Polícia intermediou encontro entre Ronnie Lessa, uma delegada e um inspetor. Segundo os promotores, o encontro resultou em acordo que permitiu a retirada em caminhões de quase 80 máquinas caça-níquel apreendidas em casa de apostas da organização criminosa, tendo o pagamento da propina sido providenciado pelo bicheiro.

Ainda com base nas investigações, um policial civil aposentado foi denunciado como integrante do grupo e como alguém que recebia propinas. Ele seria a ligação do grupo com diversas delegacias. O policial aposentado agiria em favor de integrantes do alto escalão da Polícia Civil.

Para o MPRJ, a parceria entre o bicheiro e Ronnie Lessa para a prática de ações criminosas apontada nas denúncias é antiga e há elementos de prova de sua existência ao menos desde 2009. À época, Ronnie aparecia como um dos seguranças do contraventor. O PM reformado perdeu uma perna em atentado à bomba que explodiu no seu carro em outubro de 2009.

Em 2018, os dois denunciados se reaproximaram e abriram uma casa de apostas na localidade conhecida como Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. As investigações apontam que há elementos indicando a previsão de inauguração de outras casas na mesma região da cidade.

Os promotores concluíram ainda que o bingo financiado pelo bicheiro e administrado por Ronnie, o filho do contraventor e outros comparsas, foi fechado pela Polícia Militar no dia da inauguração, mas depois de “ajustes de corrupção com policiais civis e militares, a mesma casa foi reaberta, e as máquinas apreendidas foram liberadas”.

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